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“Andrés Sanchez mede o próximo por si mesmo. Daí imaginar que nada seja de graça, que tudo tenha um preço. Razão dos tantos processos a que responde.”

(JUCA KFOURI – Painel do Leitor – FOLHA)

O perfil do Deputado Federal Andres Sanches, publicado ontem, no site da ESPN, em mais uma brilhante matéria da ótima Camila Mattoso (que passou um dia inteiro ao lado do ex-presidente do Corinthians, detalhando seus procedimentos) é absolutamente esclarecedor.

Dentre diversas mentiras contadas pelo parlamentar (praxe) e algumas ‘encenações” típicas de quem quer aparecer ‘bem na foto”, nem se fez necessária a utilização de sintonia fina (diante da inabilidade intelectual do retratado) para elencar algumas ações que o comprometem.

Selecionamos os trechos mais relevantes, com as devidas explicações:

“Eu sei quem está vazando tudo isso. É o J. Háwilla. Muita coisa vai aparecer”, diz o ex-presidente corintiano, enquanto se desloca para o gabinete da liderança do PT na Câmara, à procura de Vicente Cândido, sócio de Marco Polo Del Nero e diretor da CBF. Ele vai entrando, abrindo portas, até chegar no colega. Os dois cochicham em uma sala de reunião sobre o assunto.

“Ele [Vicente] está preocupado. Tem como não estar? Um monte de coisas acontecendo”, comenta, na saída.”

Durante toda a matéria, Andres Sanches tentou descolar-se da proximidade com a cúpula da CBF (de quem foi funcionário de Ricardo Teixeira e, durante algum tempo, de Marin e Del Nero), mas a promiscua relação com Vicente Cândido (PT), sócio na vida particular do atual presidente da Casa Bandida, entrega a verdade.

Você falou com o pessoal do Futebol? Tem que falar com eles, não é comigo. Não atendem? Vou pedir pra atender. Quanto ele tá pedindo?“, com um empresário que fala sobre Lucas Barrios no time alvinegro. Andrés liga de novo para Edu e pede para atender o agente, dando o final do telefone. “Camila, empresário é assim, você tem que atender. Tem que ouvir. Quem contrata é o Tite, e é o Edu Gaspar que faz essa ligação com a comissão”.

Nesse trecho, é nítido que os empresários – (que sequer procuraram o Corinthians) tem por hábito oferecer jogadores para Andres Sanches (que disfarçou e dispensou rápido a conversa por estar à frente da jornalista), assim como a ligação de Edu Gaspar, não a toa, acusado de servir de entrepostos para negociatas do grupo que divide comissionamentos no Parque São Jorge.

Vale lembrar que, pela hierarquia dos cargos, o destino da ligação deveria ser o diretor adjunto de futebol, Edu “Gaguinho” ou o presidente, Roberto Andrade.

“Andrés se lembra que tem uma reunião em seu gabinete. A sala 939 no anexo amarelo tem três pessoas trabalhando, uma delas é Flávio Menezes, assessor político do deputado. “Nessa conversa você não vai poder ficar”, diz Sanchez para a reportagem, no momento em que Luiz Bueno, diretor-superintendente da Odebrecht, entra.

A reunião acontece, às portas fechadas, com 20 minutos de duração, único momento do dia que Andrés não quis compartilhar.”

O encontro entre o deputado federal e o diretor superintendente da ODEBRECHT (a portas fechadas), em Brasília, levando-se em consideração que o parlamentar não participa de decisões sobre obras do Governo e, para as tratativas do estádio em Itaquera, o local adequado seria a sala da presidência do Corinthians, em São Paulo, deixam claras as razões da impossibilidade da repórter em cobrir a conversa.

O deputado Silvio Torres (PSDB-SP) o chama de lado e pede que lidere o pedido de abertura de uma CPI da CBF. “Romário já está fazendo isso”, responde. Foi o que falou a todos que perguntaram, causando estranheza a muitos.

Andrés foi recentemente convidado para um jantar com Reinaldo Carneiro Bastos, presidente da Federação Paulista de Futebol, e Walter Feldman, secretário-geral da CBF.

“Eu nunca me afastei da CBF, nunca. Me afastei das pessoas. Eu vou sempre ajudar no que eu puder, mas não vou liderar isso.”

Sanches, por razões óbvias, apesar de vociferar contra Del Nero, publicamente, estreita as relações através de intermediários e não se posiciona, abertamente (porque não pode) favorável às investigações sobre corrupção no futebol.

“Eu vivo do meu salário daqui [que é de R$ 33 mil brutos]. Tenho minhas empresas, meus postos de gasolinas. Tenho bares e restaurantes também, que ninguém precisa saber o nome.”

O Deputado, que alega ser dono de diversas empresas, não relacionou nenhuma delas na prestação de contas da Justiça Eleitoral, muito menos da Declaração de Imposto de Renda, justificando, por hora, parte das condenação de suas contas pelo TRE-SP. Equivoca-se, também, como homem público, ao dizer que ‘ninguém precisa saber o nome”.

“Não tenho problema nenhum de que me investiguem. É o pederasta do blog que cria essas coisas [em referência ao Paulinho do Blog]. Pode investigar.Querem investigar mais do que já investigaram? Meu telefone é o mesmo desde sempre, minha vida está aí”, responde, sobre se teme alguma investigação nas contas dele.

Evidentemente, apenas o ato de citar este jornalista (principal referência nas denúncias de seus desvios de conduta), demonstra inquietação do Deputado com as diversas investigações que, a cada dia, lhe ocasionam problemas. Sanches está condenado, pela Receita Federal (por quem foi tratado como golpista) a pagar R$ 15 milhões após utilizar-se de “laranjas” em empresa de fachada.

O telefone, também citado na matéria “o mesmo de sempre”, está em nome de uma das “alaranjadas”.

Fim da sessão. Mas ainda não é o fim do dia para Andrés, que vai para a mansão do senador José Perrela (PDT-MG), ex-presidente do Cruzeiro.

“Agora vou para a casa do Zezé Perrela. Vou tentar pegar o fim do jogo do Cruzeiro [eliminado naquela noite da Copa Libertadores pelo River Plate] lá. Ele me convidou, disse que vão 30 senadores também e achou que era importante eu ir. Para esse também não vou te convidar”, explica o ex-presidente corintiano.

O final do dia, na casa de Zezé Perrela, é um final de jornada perfeito para ilustrar não apenas a matéria da ESPN, mas também o convívio social dos semelhantes.

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