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Por DEP. CARLOS GIANNAZI (PSOL-SP)*

Sr. Presidente, Sras. Deputadas, Srs. Deputados, telespectadores da TV Assembleia, de volta a esta tribuna, gostaria, logicamente, de comentar – não há como não comentar – a prisão do José Maria Marin, cartola da CBF, do futebol brasileiro e internacional, que está encarcerado.

Foi preso nesta semana, junto com outros dirigentes, acusado de corrupção, de ter levado propina de grandes empresas. São acusações gravíssimas contra ele.

Ele já foi, inclusive, deputado estadual aqui.

Eu me lembro de que no ano passado fizemos aqui alguns debates em torno de uma nota taquigráfica, numa pesquisa feita nos Anais da Assembleia Legislativa. Nós descobrimos que em 1975, quando ele foi deputado estadual, ele fez um pronunciamento desta tribuna, elogiando o delegado Fleury, Sérgio Paranhos Fleury, que torturou muitas pessoas no regime militar. Um torturador, um assassino.

Ele elogiou o Fleury, e ao mesmo tempo fez duras críticas ao Vladimir Herzog, que na época era diretor de jornalismo da TV Cultura e também professor da Universidade de São Paulo, professor da ECA. Ele, aqui da tribuna, elogiou o torturador, logicamente porque ele era um apoiador da ditadura civil militar no Brasil, e pediu praticamente a cabeça do Vladimir Herzog, que em seguida foi preso, torturado e morto. Todos conhecem a história.

Debatemos isso no ano passado o tempo todo, Sr. Presidente, durante a Copa do Mundo.

Ele também foi o presidente do Comitê Organizador da Copa do Mundo no Brasil; era o presidente da CBF, estava envolvido também num outro escândalo, que o Brasil inteiro viu: ele roubando, furtando uma medalha da Copa São Paulo, no ano passado. Enfim, ele foi apelidado de Zé das Medalhas – o deputado José Américo está lembrando aqui exatamente esse fato.

Mas o fato mais crucial é que ele era uma viúva da ditadura militar.

Lembro-me de que alguns deputados aqui saíram em defesa dele, muitos dizendo que eram amigos do Marin.

E nos atacaram; lembro-me de que fiz esse debate juntamente com o grande deputado Adriano Diogo, que fez também vários pronunciamentos nesse sentido. O fato é que ele está preso agora, e espero que seja rigorosamente punido com todas as penas da lei, não só ele como outros cartolas do futebol brasileiro e internacional. Queremos que a investigação se aprofunde no futebol brasileiro, que outros cartolas também sejam investigados, Sr. Presidente.

Está sendo aprovada uma CPI no Senado; a Polícia Federal começa também um processo de investigação e vamos chegar, com certeza, a outros cartolas, outras pessoas que também receberam propina. Então, temos que fazer uma grande reforma aqui nessa cartolagem, nas instituições que organizam o futebol brasileiro.

Queria fazer esse registro, até porque é uma vergonha para a Assembleia Legislativa ter tido nos seus quadros uma figura, um deputado estadual como José Maria Marin, que apoiou o regime militar, era malufista, e sobretudo aquele pronunciamento feito aqui nesta tribuna, que foi crucial para a prisão, tortura e morte do Vladimir Herzog.

Todos nós sabemos disso; tivemos acesso às notas taquigráficas daquele momento histórico lamentável, em que ele delatou e pediu basicamente a cabeça do Herzog, que era um jornalista, um professor da Universidade de São Paulo, diretor de jornalismo da TV Cultura. Foi preso indevidamente, torturado e morto, tornando-se depois um símbolo de resistência. A partir de sua morte, houve uma grande resistência no Brasil, uma grande mobilização responsável por um grande movimento que colocou fim à ditadura militar no nosso País.

*Discurso do Dep. Est. CARLOS GIANNAZI (PSOL), realizado em 29 de maio de 2015, na 50ª  Sessão Ordinária da Assembléia Legislativa de São Paulo

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