silvio e macedo

O SBT levará ao ar, logo mais à noite, um dos mais deploráveis exemplos de manipulação midiática da história de toda a televisão brasileira: uma entrevista de princípio investigativo, mas, na edição, terrivelmente manipulada para favorecer, e, pior, homenagear, Edir Macedo, líder da seita IURD.

A autoria do “crime” é de Silvio Santos, à revelia do entrevistador, Roberto Cabrini, absolutamente arrasado com a situação.

Silvio Santos pode ser explicado em três etapas: ser-humano, empresário e Mito televisivo.

O empresário sempre foi cercado da história, belíssima, de superação, que transformou um talentoso camelô em dono, não apenas da segunda rede de televisão do país, mas também de grande império empresarial e financeiro.

Porém, o episódio Banco Pan-Americano, em que transacionou um assalto aos cofres públicos com o então Presidente da República, Luis Inácio Lula da Silva, o “Barba” do DOPS, para salvar a própria pele e também a do SBT (que seria penhorado para pagar os rombos amplamente divulgados), mostrou que, nos negócios, o dono do Baú, assim como as colegas de trabalho que frequentam seus programas, “Topava tudo por dinheiro”.

Tudo, mesmo.

Se empresarialmente Silvio caia na vala comum de mensaleiros e petroleiros, sobrava ainda o Mito da TV, até então inabalável, além, é claro, do ser humano de sobrenome Abravanel.

Recentemente, a Rede Record, na ocasião do aniversário de 80 anos do dono do SBT, produziu um especial, exibido pela emissora, que emocionou a todo o país, e, como não poderia deixar de ser, ainda mais ao homenageado.

Naquele momento Silvio havia, ainda sem perceber, tornado-se mais uma ovelha no rebanho da IURD.

O dono da seita, Edir Macedo, é o mais imoral dos brasileiros, não estando preso, sendo ainda tratado com reverência, por muitos, apenas e tão somente porque não se furta a praticar hábitos que mudaram a vida (financeira) dos que poderiam encaminhar sua punição.

Ex-macumbeiro charlatão, criou um Império que se utiliza da religião para subtrair os últimos centavos de desesperados, empobrecidos, incultos, desprovidos de senso crítico, entre outros, todos com cérebros lavados, de maneira extremamente profissional, por quem prega o que não acredita, até porque, se acreditasse, não estaria tranquilo, nadando na suntuosa piscina do Templo de Salomão.

Ainda assim, apesar das proteções referidas, Macedo foi flagrado em rede nacional ensinando pastores a delinquir, além de preso por acusações graves, como lavagem de dinheiro e, óbvio, charlatanismo.

Na última semana, destacado para entrevistar a “personalidade”, o jornalista Roberto Cabrini (sem saber que Silvio Santos queria um material “chapa branca” para retribuir a homenagem de anos antes, da Record) apertou duramente o autoproclamado Bispo, gerando desconforto em seu “staff”, e reclamações, posteriores, ao dono do SBT.

O episódio gerou uma intervenção de Silvio Santos, que, diretamente, sentou à frente da ilha de edição, e ordenou os cortes e manipulações no material.

As perguntas mais interessantes (sobre lavagem de dinheiro, etc.) foram deixadas de lado, sobrando apenas exaltação (manipulada) de alguém que personifica, como poucos, o inferno que a IURD diz combater na Terra.

Se o empresário Silvio Santos sucumbiu ao PT, anos atrás, tornado-se mais dos mesmos, o ser humano, cooptado, manchou, de maneira irreparável, a sua história.

O Mito resiste, pelo enorme talento, mas, ainda assim, chamuscado na credibilidade, diante de tão violento, e incontestável, suicídio moral.

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