Antissemitismo letal na Austrália

Da FOLHA

EDITORIAL

  • Ataque em celebração judaica é resultado de preconceito histórico nefasto que se intensificou recentemente
  • É preciso um esforço de esclarecimento para impedir a associação impensada entre abusos do governo de Israel e a comunidade judaica

Neste domingo (14), dois homens armados abriram fogo em direção a um evento de celebração do Hanukkah na praia de Bondi em SydneyAustráliamatando 15 pessoas e ferindo outras 40. A escolha do local no dia da festividade judaica evidencia a motivação antissemita da chacina.

Trata-se do ataque mais letal no país desde 1996 —quando 35 pessoas foram assassinadas por um atirador numa colônia prisional no sudeste da Tasmânia.

O primeiro-ministro da Austrália, Anthony Albanese, qualificou o ato como “incidente terrorista devastador”. De acordo com a investigação, os atiradores eram um homem de 50 anos, morto no local, e seu filho de 24 anos, que foi detido pela polícia.

Uma criança de dez anos e um sobrevivente do Holocausto estão entre as vítimas. O país tem a terceira maior população de judeus do mundo, atrás apenas de Israel e EUA, estimada entre 110 mil e 120 mil pessoas. Houve aumento de casos de antissemitismo recentemente.

Organizações judaicas australianas registraram ao menos 1.654 incidentes contra o grupo etnorreligioso entre outubro de 2024 e setembro de 2025. O número inclui de ataques a bomba em sinagogas a grafites agressivos em escolas judaicas, entre outros.

A onda de preconceito se deu após o ataque terrorista do Hamas a Israel, em outubro de 2023, que gerou a guerra na Faixa de Gaza. É preciso levar a cabo um esforço de esclarecimento para impedir a associação impensada entre os abusos cometidos pelo governo Binyamin Netanyahu e a comunidade judaica —bem como punir responsáveis e usar inteligência para prevenção.

Além de sua brutalidade, o atentado em Bondi foi ainda mais chocante para os australianos porque ataques a tiros são raros no país, que possui uma das leis de controle de armas mais rigorosas do mundo, instituída após o ataque na Tasmânia em 1996.

Apesar disso, o atirador mais velho, morto no ataque, obteve licença para posse de armas de fogo em 2015 e tinha seis delas registradas em seu nome.

O governo da Austrália prometeu endurecer ainda mais a legislação, restringindo licenças por tempo indeterminado e criando um registro nacional.

Leis são cruciais para o controle de armas, mas é necessário aplicá-las de modo eficaz. Especialistas estimam que o número per capita de dispositivos atualmente é maior do que o de 1996. Bondi mostra que o antissemitismo, ainda mais armado, é letal, e precisa ser contido para que novas tragédias não se repitam.

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