A ‘biografia’ de Rubão, o agente de jogadores que dirigirá o futebol do Corinthians

Augusto Melo e Rubão (ao fundo)

Desde antes das eleições corinthianas de 2020, quando Augusto Melo perdeu para Duílio ‘do bingo’, o Blog do Paulinho cravou que Rubens Gomes comandaria seu departamento de futebol.

Com ou sem cargo.

Ontem, como espécie de ‘balão de ensaio’, vazou-se à imprensa que Rubão assumiria, formalmente, a diretoria de futebol do Corinthians.

Seria a segunda passagem pelo cargo.

A primeira, no final da era Dualib, foi marcada pela montagem do time que viria a ser rebaixado, em 2007, sob a gestão Andres Sanches.

Augusto Melo confirmou Rubão à rádio Bandeirantes, porém, diante da terrível repercussão – inclusive entre apoiadores, a nomeação poderá ser repensada.

Se cancelada – a bem dos negócios, Augusto Melo repetiria Duílio ‘do Bingo’ ao acumular, oficialmente, Presidência e Diretoria de Futebol.

Na prática, porém, Rubão seguirá no comando.

Durante todo o dia de ontem, influencers, contratados por Augusto, na tentativa de apagar o incêndio, mentiram ao dizer que a diretoria seria figurativa.

Na história do Corinthians, o Diretor de Futebol sempre foi o segundo, quando não o primeiro (dependendo de quem a exercia) cargo mais importante do clube – acima dos vice-presidentes.

Não à toa a maioria deles tornou-se, posteriormente, candidato a Presidente.

O cargo é superior ao de executivo de futebol.

Rubão conquistou este poder porque intermediou dinheiro para o esquema Barbarense e também para as duas eleições do grupo de Augusto Melo, garantindo aos financiadores participação ativa em futuros negócios do Corinthians.

Além disso, o cartola possui a própria empresa de agenciamento.

Em 2012, Rubens Gomes constituiu a ‘XYZ Consultoria em Administração Pública Ltda’.

O empreendimento tem “Agenciamento de Profissionais para a Atividades Esportivas (…)” entre as atividades listadas na Receita Federal.

A empresa segue ativa, portanto, com possibilidade de ser utilizada em novas movimentações de jogadores.


A FOLHA CORRIDA DE RUBÃO

  • Grampo da Polícia Federal e a acusação de propina contra Tuma Junior

Em meio à investigação da Polícia Federal sobra a parceria MSI-Corinthians, Rubens Gomes surge em duas situações mal explicadas, uma delas flagrada em grampo da Polícia Federal.

O primeiro caso, ocorrido em novembro de 2004, tem duas versões.

Romeu Tuma Junior, então deputado estadual, alega que o ex-assessor de seu irmão, Robson Tuma, teria intermediado oferta de propina no valor de R$ 1 milhão, além da promessa de um cargo, para que o conselheiro alvinegro parasse de atacar a MSI.

Questionado, Renato Duprat, acusado pelo então parlamentar de ter enviado o emissário para comprá-lo, supostamente a mando de Kia Joorabchian, declarou à FOLHA:

“Ele (Tuma) prendeu o assessor do irmão dele? Quem conhecia o assessor, eu ou ele? Como o assessor dele foi ao Chico Audi, que é meu amigo? Ele quis tomar dinheiro e prendeu o cara para não levar fumo. Foi achaque puro”

Rubão era o chefe de gabinete de Tuma Junior.

Pouco após, grampo da PF deixou tudo mais confuso.

Duprat, que acusava Tuma de achaque e por ele era acusado de ofertar propina, foi flagrado em conversa nada republicana com Rubão, em que ambos pareciam metidos em coisas erradas no Parque São Jorge.

A quem Rubens Gomes enganava?

Tuma Junior, de quem chefiava o gabinete; Duprat, com quem se envolveu em negócios da MSI; ou o Corinthians, que, logo após, seria apontado como vítima de lavagem de dinheiro da Máfia Russa?

Vale a pena relembrar:


Moradei
  • Cobrador do Bragantino

Em 2007, na gestão Dualib, o Corinthians contratou o volante Moradei, por empréstimo, junto ao Bragantino.

A operação era sem custo.

O contrato terminava no dia 28 de maio.

Após a posse de Rubão na diretoria de futebol, surgiu um adendo contratual constando que, em vez da gratuidade, o Corinthians precisaria pagar R$ 520 mil ao Braga.

Detalhe: o documento não tinha a assinatura de Marquinhos Chedid, presidente da equipe do interior.

Com a queda de Dualib, Rubão perdeu o cargo e a presidência do Corinthians foi assumida, interinamente, pelo conselheiro Clodomil Orsi.

Para surpresa de todos, em 18 de setembro, um emissário do Bragantino entrou na sala de Orsi para cobrar a pendência.

Era Rubens Gomes, o Rubão, desta vez atuando pelo adversário – ou em causa própria, acreditam alguns.

O caso nunca foi devidamente apurado pelo clube.

À época, Corinthians e Bragantino negociaram os seguintes jogadores: Kadu, Felipe, Zelão e Moradei.


  • Rebaixando também o Guaratinguetá

Em 2012, cinco anos após ajudar a rebaixar o Corinthians, Rubão tornou-se gestor do Guaratinguetá, para onde levou diversos atletas ligados ao Timão, entre os quais o então jogador Coelho.

O time foi rebaixado da Série B para a Série C do Brasileirão.

Rubão deixou o clube em situação falimentar.

No ano seguinte, a agremiação foi comprada por um grupo de investidores.


  • Rubão do Bitcoin

Rubens Gomes mantinha – em cálculos de março, R$ 3,6 milhões em Bitcoins.

Não é conhecida a origem do dinheiro.

Há quem afirme que serviria como caixa para transações de jogadores ligados a Augusto Melo – Rubão financiou a ‘operação Barbarense’.

Cogitou-se, também, que parte do giro seria utilizado na campanha presidencial do Corinthians.

É pouco provável que os valores tratem-se de investimentos pessoais do cartola.

Segundo Virgilio Lage, especialista em criptomedas da ‘Valor Investimentos’:

“Para clientes de perfil moderado, sugerimos uma alocação de até 1% do capital em ativos digitais. No caso dos agressivos, de 1% a 5%”

Criptoativos são bastante utilizados por quem, eventualmente, não possa especificar detalhes em determinados negócios.

Estes ativos estavam depositados na corretora Binance, mas locados à Braiscompany, sediada em Campina Grande, na Paraíba, ambas investigadas, respectivamente, no exterior (em vários países) e pela Polícia Federal, por fraudes diversas, entre as quais lavagem de dinheiro, crimes contra o sistema financeiro e mercado de capitais.

Os sócios da Baiscompany foram presos.

Em 09 de março de 2023, Rubão tentou encerrar todos os contratos com a corretora, emitindo, por email, ordem de saque no valor de R$ 3.645.406,04, mas não obteve sucesso.

A quantia estava bloqueada pela Justiça, assim como todas as contas e bens da corretora.

Cinco meses após, Rubens Gomes, talvez temeroso dos desdobramentos – todos os investidores estão listados no Inquérito – não solicitou esclarecimentos à PF.

Abaixo, uma das transferências realizadas por Rubão à Braiscompany (o blog possui cópias de todas as transações)

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