Da FOLHA

Por GABRIELA PRIOLI

Adultos pagam as suas próprias contas

Nos últimos dias, presenciamos mais uma da vasta série de agressões do presidente da República aos profissionais de imprensa. Todas elas têm traços comuns. Entre eles, a imaturidade: “cala a boca“, “pergunta para a sua mãe”, “que vontade de socar a sua boca” e “bundão” aparecem, sem grande surpresa, na sua retórica.

Devo aqui fazer uma ressalva. Nas conversas que antecederam o título desta coluna, fui repreendida pela mãe da Flora, que está na quarta série: “Na turma da Flora todo mundo é educado”. Na Presidência da República não. É pior do que eu pensava.

Bolsonaro não amadureceu a ponto de perceber que o mundo é maior que ele. Não tem consciência de que a cadeira da Presidência precede e ultrapassa a sua existência. Criança que é, foi convidado pelo Brasil a sentar na mesa dos adultos. Um erro.

Sempre penso nos psicólogos quando falo sobre Bolsonaro. O comportamento infantil pode explicar a construção de uma narrativa alternativa para a própria existência? Não é fácil ser medíocre. Não sei fazer flexões de braço, mas digo que sou atleta. Alguma coisa deve ser capaz de explicar um presidente mentir que foi inimigo de alguém na luta armada sem nenhum constrangimento. Será que ele acredita nas histórias que ele conta ou será que só acreditam os que o apoiam?

A própria imaturidade pode servir como estratégia. Como ressalta o cientista social Marcos Nobre em seu livro “Ponto-final”, tratar Bolsonaro como burro ou louco —e aqui eu acrescento, imaturo—, “retira de Bolsonaro a responsabilidade por seus atos e palavras” porque “burros e loucos não podem ser responsabilizados pelas burrices e pelas loucuras que cometem”. E “tentar tirar a culpa do próprio colo e jogar no colo alheio” é o método político de Bolsonaro.

Maturidade implica responsabilidade. Adultos pagam suas próprias contas. Aliás, falando em contas, o presidente já respondeu por que sua esposa, Michelle, recebeu R$ 89 mil de Fabrício Queiroz?

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