Texto publicado na FOLHA de hoje, com o qual Maurício Galliote, presidente do Palmeiras, deve concordar pois assinou a autoria, defende a Medida Provisória nº 984/2020, assinada às pressas por Jair Bolsonaro, que estabeleceu ao clube mandante a comercialização dos direitos de transmissão de uma partida de futebol.

Até aí, previsível, porque o alviverde está inserido no seleto grupo das cinco agremiações de mais audiência – e torcida – do país, ou seja, beneficiados diretos pela nova imposição.

Os demais são: Flamengo, Corinthians, São Paulo e Vasco da Gama.

O problema do artigo é baseá-lo, sem necessidade, em inverdades.

É óbvio que os clubes de menor expressão, se não se unirem, terão sérios problemas para negociar suas partidas, a não ser quando estas forem disputadas contra grandes equipes.

Ou seja, enquanto o ‘Clube dos Cinco’ tende a arrecadar mais, os demais ficarão ainda mais pobres, aumentando a distância técnica entre as equipes, piorando, consequentemente, o nível dos campeonatos mais relevantes.

Em determinado trecho, o texto assinado por Galiotte diz:

“Em todas as grandes ligas do mundo, os direitos de transmissão pertencem a quem tem o “mando” do campo. O Brasil é uma exceção”

“Na prática, os clubes no país não tinham um produto, pois simplesmente não havia autonomia para negociá-lo e vendê-lo sem a anuência da outra parte, o visitante”

“Desta forma, ficavam engessados, e seus jogos podiam até não ser transmitidos”

“Desatar esse nó significa dar o poder aos clubes para trabalharem o seu próprio produto, com mais liberdade, mais concorrência, mais investimentos e mais conteúdo disponível para a população”

Não é verdade.

Na Itália e Espanha, as negociações são coletivas, com regras de distribuição desses direitos.

Outra fantasia é relacionar os efeitos da MP a uma melhor gestão das agremiações:

“O resultado natural é que a ampliação de investimentos gere aumento de receitas para os clubes, viabilizando a manutenção dos nossos craques por mais tempo no país, além da possibilidade da contratação de estrelas internacionais”

O torcedor é diretamente beneficiado, pois desaparecem os apagões (jogos sem nenhuma transmissão) e mais partidas são exibidas, contribuindo para um futebol mais democrático, mais acessível e mais barato”

“Finalmente, a economia também é fortalecida com clubes mais saudáveis financeiramente, favorecendo a criação de empregos”

O aludido aumento de receitas, se houver, ainda que beneficie os cinco mais relevantes, não será suficiente para competir com o mercado europeu, ainda mais no atual câmbio da moeda – ou até mesmo em cotações mais favoráveis.

Até porque, não se trata apenas de evoluir financeiramente, conforme demonstram os diversos exemplos ‘desadministrativos’ da CBF e seus cartórios batizados ‘Federações’, que sequer conseguem adequar o calendário às necessidades esportivas e comerciais do planeta bola.

Sobre o ‘fim dos apagões’ em partidas transmitidas, a previsão é exatamente contrária.

Se não houver a união de clubes para melhorar as possibilidades de negociações com as emissoras, muitos sumirão da televisão, principalmente a aberta.

Criar uma Liga seria o caminho óbvio, mas quem, entre os cinco beneficiados, ousaria contrariar os interesses da Casa Bandida do Futebol?

Por fim, ao destacar que a MP deixará os clubes mais saudáveis financeiramente e favorecerá a criação de empregos, o texto assinado por Galiotte ignora o próprio Palmeiras, que tem sobrevivido à custa de empréstimos da patrocinadora, apesar de apresentar, ao menos publicamente, condições melhores de governabilidade.

Não será lei alguma que mudará a maneira amadora de gestão dos clubes, em que se gasta mais do que é arrecadado, e os impostos são ignorados, obrigando, a cada dois anos, que o Governo os refinancie, gerando uma ‘bola de neve’ interminável de parcelas.

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