Do ESTADÃO

Por FABIO LEITE, FABIO SERAPIÃO e LUIS VASSALO

Registros de comunicações via Skype entre funcionários de uma transportadora de valores indicam que o atual diretor administrativo do Corinthians, André Luiz de Oliveira, o André Negão, teria recebido R$ 1 milhão da Odebrecht em seu apartamento, em São Paulo, em agosto de 2014. A entrega, em dinheiro vivo, teria como destino a campanha a deputado federal do atual presidente corintiano Andrés Sanchez.

A mensagem foi enviada na manhã de 15 de agosto de 2014 por um operador da Transexpert, no Rio de Janeiro, para o gerente de operações da Transnacional, em São Paulo.

Reprodução de relatório da PF em que contam conversas de Skype de agentes da Transnacional

As duas empresas de transporte de valores faziam as entregas de dinheiro de propina e caixa 2 da Odebrecht por meio do doleiro Álvaro Novis, o ‘Paulistinha’ ou ‘Carioquinha’.

O endereço de entrega, um apartamento na Rua Emílio Mallet, no bairro do Tatuapé, zona leste de São Paulo, é a residência de André Negão, que foi vice-presidente do Corinthians. O valor de R$ 1 milhão e a senha ‘planador’ são os mesmos que aparecem nas planilhas da Odebrecht vinculadas ao codinome ‘Timão’. Segundo delatores da empreiteira, esses recursos seriam para Andrés Sanchez, num total de R$ 3 milhões.

Os registros de conversas via Skype foram entregues espontaneamente à Polícia Federal por Edgard Augusto Venâncio, ex-gerente da Transnacional e responsável por programar as entregas de dinheiro da Odebrecht em hotéis e residências em São Paulo.

Em março de 2016, quando ocupava a vice-presidência do clube, André Negão foi preso em flagrante pela PF em seu apartamento por posse ilegal de arma.

Alvo da Operação Xepa, uma das fases da Lava Jato, o aliado e ex-assessor parlamentar de Andrés Sanchez é suspeito de ser o ‘laranja’ do presidente corintiano nos pagamentos de caixa dois de campanha. André Negão estava com duas pistolas. Depois de autuado, pagou fiança de R$ 5 mil e foi solto.

Reprodução de planilha entregue pelo delator Benedicto Júnior

Documentos. As planilhas da Odebrecht mostram que os supostos pagamentos a Andrés foram providenciados pelo executivo Antonio Roberto Gavioli, que foi diretor de contrato na Odebrecht Infraestrutura, vinculado à obra da Arena do Corinthians, inaugurada naquele ano.

Além do codinome ‘Timão’, o documento atrelava os pagamentos ilícitos à construção do estádio corintiano.

Segundo planilha de outro delator da Odebrecht, o Benedicto Júnior, BJ, entregue à força-tarefa da Operação Lava Jato, Andrés consta em uma lista de 187 políticos que teriam recebido, somados, R$ 246.612.801,00 em caixa dois.

Ao presidente do Corinthians, constam quatro repasses no documento: dois no valor de R$ 1 milhão e outros dois de R$ 500 mil, em 2014. No campo destinado ao ‘intermediário do político’, foi registrado o nome de ‘André Luís de Oliveira (assessor de Andrés)’.

COM A PALAVRA, ANDRÉS SANCHEZ

O advogado João dos Santos Gomes Filho, que defende Andrés Sanchez, afirmou que, ‘foi exibida uma foto do André Negão e os agentes da Transnacional não reconheceram’, em depoimento que prestaram à Polícia Federal no âmbito de inquérito que mira o presidente do Corinthians. “E a conversa, depois, sobre a conversa eu vou dizer quando a Justiça avalizar a conversa”.

“É lamentável que uma prova de conhecimento negativa seja obnubilada por uma tentativa, uma tentativa de fixar um endereço. Eu já fi tudo no direito, só não vi elefante voar, mas agora estou vendo elefante voar. Agora o elefante voou”, afirma.

“O André Luís, a foto foi exibida e disseram: ‘Não, não foi para esse cara não’”, relata.

COM A PALAVRA, ANDRÉ LUIZ DE OLIVEIRA

A reportagem tentou, sem sucesso, contato com André Luís de Oliveira. Também procurou o advogado Julio Clímaco, que defende o dirigente do Corinthians. O espaço está aberto para manifestação.

COM A PALAVRA, ODEBRECHT

A Odebrecht tem reiterado que ‘continua colaborando com a Justiça e reafirma o seu compromisso de atuar com ética, integridade e transparência’.

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