Da FOLHA

Por CRISTINA SERRA

Execrados em 2018, agora os chefes da rapinagem são reverenciados.

Foi um espetáculo grotesco de inversão da lógica política a convenção do PL que tornou oficial a candidatura de Bolsonaro à reeleição. Deve ser a primeira vez no mundo que alguém se candidata atacando o sistema eleitoral que o elegeu e pelo qual será candidato mais uma vez.

A convenção não era apenas do PL de Valdemar Costa Neto. Era também do centrão, já que lá estavam os expoentes dos partidos que formam a base de apoio do governo e que compõem a facção política mais corrupta de que se tem notícia no Brasil contemporâneo.

Execrados em 2018 pelo general que fez até paródia de samba para enganar trouxa, agora os chefes da rapinagem são reverenciados. Só faltou Bolsonaro se ajoelhar aos pés do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), operador do orçamento secreto e arquivista de pedidos de impeachment, que garante as noites de sono no Palácio da Alvorada.

A presença de Lira é um endosso explícito ao projeto golpista do presidente. Lira não deu uma palavra, até hoje, sobre a pregação de ruptura institucional feita por Bolsonaro a representantes diplomáticos. Não se deu ao trabalho de pronunciar um laivo que fosse de crítica ou condenação, ainda que protocolar já que, teoricamente, representa 513 deputados.

Lira é tão pernicioso quanto Bolsonaro para a democracia. Sob seu comando, a Câmara exala o mau cheiro das substâncias em estado de decomposição. Lira é parte do golpe, qualquer que seja o modelo de ruptura que vier a ser tentado pelo demente do Planalto. Seria injusto, porém, não mencionar o terceiro pilar da insânia golpista, o desaparecido procurador-geral da República, Augusto Aras. Os três degradam as instituições que representam.

No show de horrores que foi a convenção, quase a cerimônia de uma seita, o presidente fez um apelo aos seus seguidores para que ocupem as ruas no 7 de Setembro pela “última vez”. Assim será. Bolsonaro perde força e será escorraçado em outubro pelas urnas que tanto teme.

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