Ontem, como de hábito ocorre nas partidas entre Corinthians e São Paulo, principalmente as disputadas em Itaquera, torcedores do Timão entoaram cânticos homofóbicos que faziam alusão ao adversário.
Em coletiva, o presidente alvinegro discursou indignação e disse ter orientado o sistema de som a pedir ao público o encerramento das manifestações.
Meias verdades ou meias mentiras?
Dias antes, Duílio ‘do Bingo’ Monteiro Alves recebeu, assim como quase todos os conselheiros e diretores do Corinthians, em grupo de WhatsApp, material homofóbico de teor semelhante, enviado por conselheiro do clube ligado aos atuais gestores.
Ninguém se incomodou; alguns riram e repassaram adiante.
Antes do clássico, conselheiro do Corinthians envia vídeo homofóbico contra o São Paulo
O relatório da arbitragem mostra que o pedido para que o som do estádio orientasse o público a parar com as agressões partiu deles, e não da diretoria do Corinthians, que apenas acatou.
E somente por medo de punição esportiva, conforme deixou bem claro o locutor da Arena.
Mas não é apenas a homofobia que é tratada com desdém pelos cartolas alvinegros.
O ambiente de Parque São Jorge sempre normalizou manifestações preconceituosas.
Principalmente o racismo.
Se no caso da homofobia, quando ligada ao Tricolor, existe a indevida desculpa de rivalidade futebolística, nos demais sequer há a preocupação em justificar.
Pretos são tratados, por muitos, como ‘macacos’ em Parque São Jorge, inclusive em rodas com presença de alguns magistrados.
Vagas em vestiários foram negadas a homossexuais, segundo relatos recebidos pelo Blog do Paulinho, a pedidos de senhores ‘respeitáveis’, sempre em nome da ‘família’.
Quase todos, nos bastidores do Corinthians – entre os quais diretores, conhecem casos semelhantes e, principalmente, os nomes dos protagonistas.
Ninguém sequer foi denunciado.
Recentemente, o Timão instituiu um departamento de ‘fake-news’, através da mesma empresa que prejudicou trabalhadores do IFOOD, que movimentam as mídias sociais com robôs e perfis falsos para minimizar escândalos que cercam a agremiação.
Não à toa, logo após o clássico de ontem, houve uma invasão de comentários a perfis de jornalistas que criticaram os cânticos homofóbicos, todos orientados a tratar os discursos com o termo ‘mi-mi-mi’, imortalizado pela intolerância bolsonarista.
O caso mais óbvio de racismo no Corinthians é o não apoio do grupo ‘Renovação e Transparência’, há quinze anos no poder, à candidatura de André Negão à presidência alvinegra.
Todas as promessas de que ‘na próxima eleição’ seria escolhido foram descumpridas.
Andres Sanches, enrolado na Justiça em meio a acusações de ‘golpes de arara’; Mario Gobbi, citado em CPI do Detran, Roberto Andrade, expulso da própria empresa sob acusação de roubo, e Duílio ‘do Bingo’, com bens e contas bloqueadas há mais de um década, todos brancos, chegaram à Presidência do Corinthians.
Ou seja, a rejeição ao nome de André Negão, oriunda de seu próprio grupo, nunca ocorreu pelo currículo – tão controverso quanto os dos citados, mas, evidentemente, pela cor da pele.
O Corinthians é um clube que discursa para fora o que, comprovadamente, não pratica intramuros.
Enquanto não houver combate efetivo a esta realidade, os torcedores preconceituosos – muitos deles recebidos na sala da presidência – permanecerão à vontade para delinquir, alguns eles, inclusive, frequentando estádios com ingressos fornecidos pela própria diretoria.
Somente com a suspensão da torcida é que pode amenizar o problema. Jogos com o estádio vazio é o único remédio. Proibir essa bagaceirada de comparecer ao estádio seria um justo castigo a todos.