De O GLOBO

Por MÍRIAM LEITÃO

O governo Bolsonaro está deixando uma alta conta para ser paga no ano que vem, pelo seu próximo mandato ou para o próximo governante, e que pode gerar mais inflação.

As medidas são defensáveis, mas precisam ser sustentáveis.  Por exemplo, a redução do IPI, feita para tentar compensar a alta inflação, gera um gasto de R$ 27,4 bilhões.

Diminuição de imposto é algo que todos gostam, mas é preciso saber qual o objetivo desta anistia. Deveria ser realizado numa reforma tributária, que o governo nunca fez. Ao contrário, sabotou a proposta de mudança de impostos que tramitava no Congresso na presidência de Rodrigo Maia, que lutou muito pela reforma tributária. O governo entrou no processo para confundir com propostas paralelas e acabou não fazendo nada.

Outro exemplo é o aumento da transferência para os mais pobres. O governo mudou o nome de Bolsa Família para Auxílio Brasil para mudar a marca e transmitir para os beneficiários que Bolsonaro é o dono da ideia. No entanto, todos sabem que quem criou o programa foi o ex-presidente Lula, com ideias iniciais plantadas no governo Fernando Henrique.

O objetivo eleitoreiro é tão escancarado que o valor de R$ 400 irá até o final deste ano. É preciso saber como custear este reajuste, cortar e equilibrar os gastos. E a solução do governo é colocar acima do teto. Em entrevistas a rádios no final de semana, o presidente defendeu o fim do teto  de gastos. Disse que, se for reeleito, vai acabar com o limite. Isto vai gerar mais inflação. Teto de gastos não é nenhum dogmatismo, mas é preciso ter parâmetros fiscais. Se não, as expectativas aumentam, e a inflação cresce ainda mais. O que acaba afetando mais as pessoas mais pobres.

O jornal ‘Estado de São Paulo’ publicou uma matéria nesta segunda-feira em que calcula que as bondades do governo já têm um custo de R$ 82 bilhões para as contas do próximo governo. O empréstimo às distribuidoras de energia vai bater no bolso dos consumidores nos próximos anos, por exemplo. São diversas manobras eleitoreiras que deixam um alto custo para o país.

Normalmente, as equipes econômicas ficam preocupadas e são uma barreira contra a gastança. Mas esta equipe não fez isso. Deixa tudo acontecer porque faz parte da mesma campanha eleitoral.

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