Da FOLHA

Por GUILHERME BOULOS

Qualquer recuo momentâneo não deve semear ilusões; ele continuará com sua ofensiva

Depois do 7 de Setembro e da cartinha a quatro mãos com Temer, Bolsonaro parece insistir no figurino paz e amor. Sua entrevista sob medida para a revista Veja, em tom moderado, parece até a de um presidente da República, não fossem as asneiras de sempre e a indiscreta confissão sobre os efeitos da conversa com Alexandre de Moraes. O golpe está aí, cai quem quer.

Desde que foi eleito —por urnas eletrônicas—, Bolsonaro nunca desceu do palanque. Sempre esteve mais preocupado em alimentar seus seguidores do que em governar o país. Parece loucura, mas tem método. Do golden shower à cloroquina, seu grande esforço é organizar um movimento sólido de extrema direita no Brasil. Nisso, há de convir, ele obteve sucesso. O bolsonarismo é uma corrente social de viés fascista como não víamos aqui desde os integralistas de Plinio Salgado.

Bolsonaro age como líder de facção, não como presidente. E não vai mudar sua orientação política. Aliás, os entusiastas da pacificação, reunidos recentemente em convescote para assistir imitações de quinta categoria, já tiveram um balde de água fria com o discurso de Nova York. Diante do plenário da ONU, assistimos envergonhados a defesa do “tratamento precoce”, o ataque à vacinação.

Qualquer recuo momentâneo não deve semear ilusões. Bolsonaro seguirá com sua ofensiva, e não apenas por teimosia. Essa é sua natureza política. Ele é herdeiro ideológico do general Silvio Frota, que ensaiou um golpe dentro do golpe contra Geisel e que se opôs frontalmente ao processo de abertura. Era a chamada linha dura dos militares. Tentaram construir um pretexto para o fechamento autoritário com o Riocentro, enxergavam comunismo em toda parte e sempre atuaram para desestabilizar a democracia. Vale lembrar que Augusto Heleno, hoje ministro do GSI, era ajudante de ordens do general Frota.

Bolsonaro não vai parar sozinho. Precisa ser parado. Por isso é tão importante a manifestação do próximo sábado, 2 de outubro. Ele se apoia na mobilização de seus grupos fieis para desacreditar pesquisas de opinião e afirmar um suposto respaldo na sociedade. Apenas a rua pode dar uma resposta definitiva. Os movimentos sociais, organizados na campanha Fora Bolsonaro, realizaram cinco importantes atos desde maio. Esse precisa ser ainda maior que os anteriores. O aumento da população vacinada cria condições para isso.

Que as manifestações do dia 2 ocorram em mais cidades, com mais gente e maior amplitude política, será a demonstração de força de que precisamos para a luta pelo impeachment. Será a expressão de que a sociedade não se deixou enganar pela farsa do Bolsonaro Paz e Amor. Às ruas no sábado!

Facebook Comments