Da FOLHA

Por JUCA KFOURI

Clube insiste em gerenciar a vida temerariamente, como tem sido habitual nos últimos de seus 111 anos

​Cássio, Fagner, Gil, João Victor e Fábio Santos; Roni, Renato Augusto e Giuliano; Willian, Jô e Róger Guedes formam um belo time à disposição de Sylvinho, além de boas opções no banco, como Gabriel, Adson, Mosquito, Cantillo, Lucas Piton, Mateus Vital e Vitinho.

De repente, de brigar para não cair, com 20 jogos pela frente, ficar no G4 passou a ser objetivo factível para o endividado Corinthians.

O time é de veteranos sim, mas com cinco participantes de Copas do Mundo.

O segundo clube mais popular do país, com o maior número de torcedores em sua base, a de maior potencial no Brasil, investe em aposta arriscada: a de garantir vaga na Libertadores e faturar com as cotas de boa classificação no Brasileiro e no torneio continental.

Ganhará a aposta? É provável. Será suficiente para equilibrar as contas? Certamente, não.
E se perder? Nem é bom pensar!

O fato indesmentível é o de que o Corinthians insiste em gerenciar a vida temerariamente, como tem sido habitual nos últimos de seus 111 anos comemorados em 1º de setembro.

A ponto de a turma que está no poder ter recusadas suas contas em 2019 e o responsável, que ocupava a cadeira de presidente, seguir impune, embora o estatuto do clube preveja punição severa ao… irresponsável.

Gestão temerária é diferente de gestão fraudulenta e é difícil separar uma da outra no caso corintiano.

Porque o Corinthians não recolhe FGTS desde 2019, crime agravado se houver apropriação indébita, isto é, o registro da contribuição sem o depósito correspondente.

Convenhamos que administrar assim é fácil. Contratar jogadores caros também, e enganar, e animar, o torcedor que olha só para dentro do campo, mais ainda.

Repetir aqui que no começo da década passada prometia-se fazer do Corinthians um dos três maiores clubes do mundo é tão desnecessário como cansativo.

Era uma aposta, nada além disso, embora em situação privilegiada, com o time ganhando tudo, casa própria pronta, CT a mil, o melhor dos mundos. Aí, surgiu a Lava Jato e tudo mudou do céu ao inferno, sem passagem pelo purgatório.

Noves fora a crise econômica, a pandemia, a dívida que ronda o tal bilhão assustador, sem contar a do estádio, eis que apostas perdidas são assim, podem levar à perdição.

Na vida pessoal, aposta quem quiser, se perder que se vire.

Num clube com a dimensão e tradição centenária do Corinthians, não!

Ainda mais com cartolas sem credibilidade.

E nem precisa ir muito longe, basta retroceder 16 anos no tempo e lembrar da MSI, do dinheiro sujo dos russos, do título brasileiro, de Carlitos Tevez, de Nilmar, e de que, dois anos depois, a queda para Série B soou inevitável.

Clubes que envolvem tanta paixão não deveriam ser nem brinquedos de milionários, nem tábua de salvação de fracassados ou meros objetivos para satisfazer vaidades, ambições pessoais.

A Fiel entrará no modo euforia. Verá, tudo indica, a camisa mais amada de São Paulo voltar às vitórias memoráveis.

Os portões do clube, do CT, das casas dos cartolas, não serão mais cercadas por cantos e faixas ameaçadoras. Que bom!

A paz reinará no histórico Parque São Jorge entre os torcedores de boa vontade. Que chamarão os críticos de anticorintianos.

Mas, como será aos 115 anos?

Começará tudo outra vez?

Tomara que não, embora a experiência mostre o contrário.

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