Em janeiro de 2015, para acomodar os interesses do agente Carlos Leite, o Corinthians, sob a presidência do delegado Mario Gobbi, recontratou o volante Cristian, à época prestes a completar 32 anos.

O salário anunciado era de R$ 500 mil mensais.

A diretoria de futebol do Corinthians, controlada pelos então diretores Roberto Andrade e Duílio ‘do Bingo’ Monteiro Alves, que obedeciam, da mesma maneira que o fazem na atualidade, ao ex-presidente Andres Sanches, avalizou o negócio.

Nos anos que seguiram, raramente o atleta foi escalado, embora fosse figura presente no noticiário noturno.

Em 2017, ano do encerramento de seu vínculo com o Timão, Cristian disputou apenas duas partidas, ambas amistosas, antes de, em março, ser afastado e passar a treinar em separado.

Somente em setembro o atleta seria transferido, por empréstimo, ao Grêmio, com salários pagos pelo Corinthians até o final do contrato com o clube, em dezembro do mesmo ano.

O Blog do Paulinho teve acesso a documentos que comprovam a movimentação financeira de Cristian durante seu derradeiro ano em Parque São Jorge.

Os números são conflitantes e indicam, talvez, a utilização do atleta para lucratividade de terceiros.

Cristian declarou, em seu Imposto de Renda (pessoa física), o recebimento de R$ 4.443.333,33 oriundos do Corinthians, além de R$ 7.301,28 de INSS, R$ 1.205.704,44 de IR retido na Fonte, R$ 261.015,88 correspondente a 13º salário e R$ 97.806,91 de IR sobre 13º.

Total: R$ 6.015.161,84.

Média de R$ 501.263,48 (bruto) ao mês.

R$ 370,2 mil líquidos.

Vale a pena observar que Cristian apontou recebimento de, apenas, pouco mais de R$ 7 mil anuais da empresa ‘CC Baroni Administradora e Marketing Ltda’, utilizada pelo atleta para embolsar ‘direitos de imagem’ (disfarce de recebimentos salariais com incidência de menor carga tributaria).

Os números divergem dos demonstrados no Balanço Oficial do Corinthians, que, em 2017, atribuía pagamento à ‘CC Baroni’ no valor de R$ 4,5 milhões anuais.

R$ 375 mil mensais.

Em tese, para quitação das obrigações com Cristian, sairiam pouco mais de R$ 876 mil mensais (incluindo encargos) dos cofres corinthianos.

É praxe, no submundo da bola, que os jogadores não embolsem, necessariamente, os valores acertados com seus clubes, destinando enormes percentuais a terceiros, nem sempre identificados.

Normalmente, o agente e os cartolas envolvidos no negócio.

Em 2019, Cristian, por conta de problemas judiciais, teve suas contas periciadas para comprovar a origem de seus recursos.

O documento, assinado pelo perito Aparecido Carlos Gomes Azevedo Ferreira, lista, dentre outras coisas, a conta corrente nº 23457-4, na agência 1603, da Caixa Econômica Federal, utilizada como ‘conta-salário’ pelo atleta em seu período de Corinthians.

Através dela, observa-se que Cristian recebeu, em 2017, apenas R$ 3.308.801,89 do clube.

As diferenças são gritantes.

Se levados em consideração apenas o que Cristian assumiu ter recebido em sua declaração de Imposto de Renda – em que é obrigado a alinhar-se com a saída oficial do caixa do Corinthians – e o efetivamente depositado em sua conta salarial (R$ 4.443.333,33), incluídos descontos dos impostos (IR, INSS, etc) o valor ‘a menor’ é de R$ 1,1 milhão.

Sobre os ‘direitos de imagem’, a discrepância é ainda mais escandalosa: R$ 4,5 milhões contra R$ 7 mil declarados pelo atleta.

A empresa ‘CC Barone’, aparentemente, não possui dinheiro em caixa, conforme observado em recentes ações de cobrança, algumas de valores irrisórios (pouco mais de R$ 3 mil em condomínio, protocolada em 23 de fevereiro de 2021) em seu desfavor no sistema judiciário nacional.

Efetivamente, em 2017, segundo a documentação apresentada, R$ 5,6 milhões, dos quase R$ 9 milhões pagos pelo Corinthians não entraram na conta de Cristian; números que, provavelmente, devem ter se repetido em 2015 e 2016.

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