Paulo Garcia, conselheiro e eterno candidato a presidente do Corinthians, há tempos enfrenta dificuldades com as empresas do grupo Kalunga – do qual é proprietário, fruto, segundo especula-se no mercado, de gestão conservadora e atrasada.

Contrassenso à fama de grande empresário, fomentada por seus pares em Parque São Jorge.

Os problemas acentuaram-se durante a pandemia com fechamento de lojas e a necessidade de abrir capital – antes rechaçada, sem, porém, conseguir atender aos requisitos mínimos exigidos pela CVM.

A IPO está parada há mais de um ano.

Diante dessa situação, Garcia aproximou-se, ainda mais, do irmão Fernando – cada vez mais milionário com as transações de jogadores em parceria com dirigentes, engatando, ainda, recente tentativa de concorrer ao cargo máximo do Corinthians.

Paralelamente a isso, com a Kalunga, se metia em negócios estranhos.

Um deles, com a famosa JBS.

Em abril de 2020, a Kalunga decidiu contratar o serviço de transporte de bovinos vivos do frigorífico.

A tarefa: levar 1.200 cabeças de gado da Fazenda Bom Jesus, em Araguaina/MT, para a Fazenda Kalunga, em Pontal do Araguaia/MT, compreendendo a distância de 125 KM.

Pela Kalunga, negociou o preposto Fredson Lucas Lima de Souza; do lado da JBS, Wilton Douglas Monteiro Magalhães.

Todas as tratativas se deram via whatsapp.

Porém, em meio ao transporte, 60 animais morreram.

A Kalunga alegou, segundo a JBS indevidamente, que os bois eram ‘matrizes de vaca PO (pura origem)’ e, por conta disso, cobrou ressarcimento de R$ 600 mil, ou seja, R$ 10 mil por cabeça, deixando de pagar, ainda, os R$ 24,2 mil pelo transporte.

O frigorífico, desconfiado desde a origem das conversas, documentou o que trata como possível tentativa de fraude e, na Justiça, denunciou a contratante.

Trecho de ação, promovida pela JBS contra a Kalunga, revela os seguintes fatos:

  • (i) A Kalunga disponibilizaria maquinários específicos para suporte em caso de atolamento dos caminhões da JBS, diante da real possibilidade deste evento ocorrer em razão das difíceis condições do percurso, porém não foram disponibilizados,
  • (ii) os animais não eram gados especiais e estavam em más condições, parecendo fracos, cansados e mal tratados antes do embarque para o transporte, conforme admitido pelo próprio preposto da Kalunga e;
  • (iii) A própria Kalunga apresentou notas fiscais para o transporte declarando o valor unitário de R$ 1.000,00 (mil reais) por cada animal, atestando não serem gados especiais.

A análise do descrito leva a crer que a Kalunga teria tentado ludibriar a JBS enviando animais doentes como se fossem premiados para, talvez, apostar na morte de alguns e lucrar com a indenização.

Obviamente, caberá a Justiça avaliar a verdade.

Farta documentação, porém, foi juntada pela JBS, inclusive as Notas Fiscais ‘a menor’, que, por si, podem ser tratadas como infrações graves ao Fisco, além de cópia, autenticada em cartório, das conversas entre as partes mantidas pelo whatsapp.

As diversas NFs, em nome de Paulo Sérgio Menezes Garcia, discriminaram cada ‘cabeça’ a R$ 1 mil, num total de 50 bovinos por papel.

O contrato é claro em especificar que o ressarcimento, se necessário, tomaria como parâmetro a documentação oficial.

A JBS relatou a desconfiança:

“(…) o próprio Paulo Garcia se identifica como empresário e agropecuarista, proprietário de vários imóveis rurais, não sendo crível que tenha declarado valor menor do que a carga valeria”

Ou seja, em vez dos R$ 600 mil, o frigorífico estaria devendo apenas R$ 60 mil, tendo ainda direito a receber os R$ 24,2 mil não recebidos pelo serviço.

No dia 17 de abril de 2020, Fred, da Kalunga, revelou à JBS a dificuldade do trajeto, alertando, ainda, que a empresa poderia “sofrer com esse gado” que, segundo ele, estaria “sintido”

A JBS interpretou ‘sintido’ como ‘castigado’.

Três dias antes, Fred, da Kalunga, prometeu que um trator estaria esperando a JBS por conta da dificuldade do percurso, mas, efetivamente, não estava.

No dia 21 de abril, prepostos da JBS, enviados ao local de transporte, constataram, segundo a empresa, que os animais, em vez de ‘premiados’, eram “fracos, idosos e extremamente sensíveis”, razão pela qual, por segurança, decidiram fotografá-los:

Após a entrega dos bois e os consequentes problemas originados das mortes das 60 cabeças, Paulo Garcia, apesar de ter discriminado suas ‘mercadorias’ a preço unitário de R$ 1 mil, encomendou laudo pericial que resultou em avaliação de R$ 10 mil a peça.

No processo, a JBS desqualifica o documento, tratando-o como ‘inidôneo’:

“(…) a JBS refuta, de início, a idoneidade de tal “parecer”, uma vez que (i) descreve animais não identificados, (ii) bem como não há prova que se tratariam dos mesmos animais transportados pela JBS, e por (iii) basear-se exclusivamente em mera opinião pessoal, sem qualquer lastro probatório técnico de avaliação”

Paralelamente a esse assunto, o Blog do Paulinho teve acesso a outra Nota Fiscal, também emitida por Paulo Garcia, dois anos antes (27/04/2018), em que discriminava animais semelhantes aos identificados no transporte da JBS, pelo valor unitário de R$ 1,6 mil, bem inferior aos R$ 10 mil sugeridos na suposta ‘perícia’:

Na ação, promovida, curiosamente, próxima da época em que Garcia desistiu de ser candidato a presidência do Corinthians, a JBS pede a isenção do pagamento da indenização – aparentemente por sentir-se enganada – e a cobrança do calote de R$ 24,2 mil não pagos pela Kalunga por conta do serviço de transporte.

Procuradas, as empresas não se manifestaram até a publicação.

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