Da FOLHA

Por HÉLIO SCHWARTSMAN

Ele deve ter ficado magoado com o Exército após quase ter sido expulso em 1986

Jair Bolsonaro deve ter ficado magoado com o Exército depois de quase ter sido expulso da instituição em 1986. Vingança é a melhor explicação para a difícil situação em que o capitão reformado põe o Exército agora.

Com efeito, com pouco mais de dois anos na Presidência, Bolsonaro fez com que os generais jogassem por terra três décadas de intensos esforços de relações públicas pelos quais tentaram convencer o país de que o Exército Brasileiro tinha compromisso com a democracia e se pautava pelo profissionalismo e pela competência.

Apreço pela democracia não é compatível com o apoio ostensivo que militares da ativa dão a um político autoritário que pode ser acusado de várias coisas, mas não de zelar pelas instituições democráticas.
Profissionalismo e competência não são compatíveis com o desastre que é a atual administração, que conta com número recorde de militares. O caso mais notório é o do ex-ministro da Saúde general Eduardo Pazuello, que aceitou um cargo para o qual não estava qualificado e entregou um morticínio.

Bolsonaro também foi capaz de produzir uma crise militar como o país não via havia décadas ao demitir, em março passado, o ministro da Defesa e os chefes das três Forças. Ao que tudo indica, a dispensa ocorreu porque o presidente não se sentia suficientemente apoiado pelos oficiais.

Nos últimos dias, o capitão rebelde voltou à carga, arrastando Pazuello para um ato político, o que é vedado a militares da ativa, e criando empecilhos à punição que o comando teria de impor ao general. Mais uma vez, a imagem da instituição vai para a lama. Ou o novo comandante peita o presidente (o que não ocorrerá) ou contemporiza e se sai com uma punição simbólica, o que representaria um incentivo à indisciplina e à politização das Forças Armadas.

Tudo isso talvez tivesse sido evitado se, lá atrás, os oficiais não tivessem contemporizado ao punir Bolsonaro.

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