EDITORIAL DA FOLHA
Ataque farsesco de Bolsonaro a urna eletrônica mal esconde temores de derrota
Eleições em ambientes democráticos competitivos, como é o caso brasileiro, ganham-se e perdem-se. O manual de boas condutas políticas prescreve aos derrotados que reconheçam o desempenho do vitorioso e sigam em frente, porque logo as urnas lhes propiciarão oportunidades de recuperação.
As correntes autoritárias e populistas que despontaram nos últimos anos rasgaram essa cartilha. Quando a derrota se insinua, ou se consuma, reagem com tentativas de desacreditar as instituições e as autoridades eleitorais com acusações infundadas sobre fraudes e conspiratas fabulosas.
O mestre Donald Trump —que como criança mimada esperneia contra uma derrota incontestável nos EUA— mostra o caminho, e seu discípulo o imita aqui no Brasil.
Ao presidente Jair Bolsonaro decerto não convém debater os resultados das eleições municipais deste domingo (15), que lhe foram desfavoráveis. Então tenta mudar de assunto voltando a questionar, sem apresentar nenhuma evidência, o modelo da urna eletrônica.
O mandatário aproveitou-se da lamentável falha do Tribunal Superior Eleitoral, que atrasou a divulgação dos resultados do pleito, para pregar o retorno ao voto impresso como forma de supostamente garantir a lisura do processo. Um minuto de atenção ao noticiário basta para acusar o sofisma.
O defeito em computadores do tribunal e a tentativa rechaçada de ataque hacker ao seu site não colocaram em xeque a confiabilidade da apuração dos votos. No primeiro caso, retardou-se a publicação de resultados; no segundo, evitou-se acesso a dados sigilosos.
Há que apurar os dois eventos, identificar e responsabilizar os delinquentes no segundo caso e agir para que os problemas não se repitam. Mas é preciso ter claro que em nenhuma hipótese conhecida a vontade do eleitor manifestada na cabine indevassável, alicerce da democracia, foi conspurcada.
A urna eletrônica brasileira não está conectada à internet e por isso não se presta a ataques remotos. Ao final do escrutínio, de cada uma delas se extrai um boletim impresso descritivo da votação, que pode ser conferido e auditado.
Auditorias e testes de vulnerabilidade são parte constante do processo e se incrementam a cada ciclo eleitoral. Em mais de duas décadas de uso maciço, nenhuma fraude foi comprovada no dispositivo.
O que preocupa Bolsonaro, obviamente, não são os aspectos técnicos do sistema de votação. Ele não se importa com a sustentação fática das asneiras que patrocina.
Dá curso à conversa fiada conspiratória porque enxerga nuvens carregadas no seu horizonte político. E sabe que, no Brasil como nos EUA, quem perde volta para casa.
Trump e Bolsonaro agem feito dois moleques. Só falam merda, permitiram a contaminação descontrolada da covid em seus países, estão com medo de Lenin se levantar do túmulo. Os dois têm ódio de quem é diferente deles, ou seja, dois nazistas. Precisamos, sim, erradicar a pobreza e promover a inclusão e o direito para todos, sem exceção, coisa que os dois psicopatas detestam.