Da FOLHA

Por CLAUDIA TAJES

Se o general falou, não é o capitão que vai discordar

Se o desgoverno Bolsonaro não tivesse tanta raiva da educação, tanta desprezo pela cultura e tanto horror da ciência, jejum e alho para combater o coronavírus seriam apenas piadas de WhatsApp.

Mas sendo esse desgoverno a maior reunião de lunáticos, recalcados e fanáticos que já se viu, crendices das mais diversas e ela, a cloroquina, são as armas oficiais do país na pandemia. Não podia dar certo.

Segundo a Agência Lupa, que checa a veracidade de dados, fatos e declarações, o Brasil detém hoje o recorde mundial de peças com desinformação sobre o total de casos e mortes por Covid-19.Não fosse o consórcio de veículos a atualizar os números, quem sabe o Brasil estaria se achando uma Nova Zelândia, livre, leve e solto para lotar os shoppings e cair na festa sem máscara.

Opa, esse é o Brasil. Rumo ao primeiro lugar no ranking. Desta vez os Estados Unidos vão comer poeira.

Parece que o presidente não faz nada, mas ele faz, sim. Agora mesmo mandou seus apoiadores irem aos hospitais de campanha para filmar os leitos vazios. Quem assistiu à minissérie “Chernobyl” deve ter lembrado do chefe que obrigou seus comandados a verificarem in loco o reator que explodiu.

Sugestão: na hora de escolher quem usa os respiradores, bolsominions ficam de fora.

No afã de encontrar justificativas para abrir geral, o Norte e o Nordeste acabaram até deslocados para o hemisfério Norte. Agora, com o verão chegando, a pior parte da pandemia já passou, disse o ministro da Saúde interino —que pode não ser técnico nem manjar de geografia, mas é general da ativa.

Existe qualificação maior na visão de um simples capitão?

O despreparo do ministério chega a dar inveja de Incitatus, o cavalo que o imperador Calígula nomeou cônsul na Roma antiga. Ainda mais quando a gente pensa no nosso tresloucado chanceler. Incitatus ficava na dele, comendo tranquilo, abanado pelos escravos, bebendo água fresquinha. Já os nossos, ah, os nossos. Pelo menos Abraham Vai, Traub tem levado nos dedos semana sim, outra também.

A pretensão de indicar os reitores das universidades federais durante a pandemia acabou no único lugar possível, o lixo. Mas não dá para relaxar. Alguma nova medida a favor da ignorância ele já deve estar maquinando.

Enquanto isso, as últimas neves do inverno cobrem de branco a caatinga.

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