No último dia 22 de abril, a Assembleia Geral de Credores da Odebrecht, em reunião virtual, aprovou os termos de recuperação judicial da construtora e doutras onze empresas por ela controladas.

Entre as quais a OPI (Odebrecht Participações e Investimentos), detentora de 11% do estádio do Corinthians e credora de R$ 610 milhões em debentures (empréstimos) emitidas à Arena Itaquera S/A.

Os dados, exatos, fazem parte de extenso relatório que sustentou a referida promessa de pagamento.

Apesar do elevado valor, as dívidas do Corinthians, através da Arena Itaquera S/A, não foram inseridas na proposta aprovada pela Assembléia, descartadas pela própria OPI sob constrangedora alegação de possibilidade de calote.

Diz trecho de decisão judicial do processo nº 1057756-77.2019.8.26.0100, em trâmite na 1ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais da Comarca da Capital do Estado de São Paulo:

“As Debentures OPICP e Debentures OPILP a receber, são debentures a receber da Arena ltaquera S.A., que na avaliação atestou que não ha expectativa de recebimento, por conta disso foram baixadas no calculo total de endividamento da ODEBRECHET PARTICIPAÇOES E INVESTIMENTOS S.A.”

Em tese, o Corinthians está livre para negociar a dívida com a construtora, sem, porém, o amparo da recuperação judicial.

11% do estádio de Itaquera correspondem a R$ 90,2 milhões (base: R$ 820 milhões) que acrescidos dos R$ 610 milhões (debentures) perfazem o total de R$ 710,2 milhões.

Essa é a dívida real do Corinthians com a Odebrecht, já descontadas outras pendências, pagas com o repasse de CIDs emitidos pela Prefeitura de São Paulo.

Resta saber se a construtora, conforme discurso do presidente alvinegro Andres Sanches, aceitará receber apenas R$ 200 milhões do montante total, abrindo mão de quase R$ 500 milhões.

Outras revelações importantes, e preocupantes, inseridas no “Relatório AP-00635/19-01 – Viabilidade Financeira da Recuperação da Odebrecht”, são as seguintes:

  • para honrar as dívidas do estádio, o Corinthians, através da Arena Itaquera S/A, precisará de sucessivos aportes (financeiros) e nova captação de debentures;
  • o clube não está pagando dia as parcelas do BNDES

Ou seja, mesmo que consiga quitar a dívida com a Odebrecht, parece claro que viabilidade financeira para honrar não apenas as dívidas da construção, mas também as despesas correntes do estádio, no atual plano de negócios, aprovado por três presidentes alvinegros, além dos diretores Luis Paulo Rosenberg, Raul Corrêa da Silva e Sergio Alvarenga, inexiste.


ÍNTEGRA DOS DOCUMENTOS:

Plano de Recuperação da OPI:

Plano de Recuperação Judicial OPI – 22-04-2020

Plano de Recuperação da OPI – anexo:

Plano de recuperação judicial OPI – Anexo 1.1.55(a) Laudo inciso II – OPISA

Aprovação ao Plano de Recuperação da Odebrecht pela Assembléia Geral de Credores:

Aprovação recuperação Odebrecht

Relatório AP-00635/19-01 – Viabilidade Financeira da Recuperação da Odebrecht:

Relatório AP-00635 – viabilidade financeira recuperação odebrecht


Trechos mais relevantes do relatório:

Página 20, Item 7.4:

Ao listar o valor econômico da OPI, a Odebrecht desconsidera os 11% da Arena Itaquera e os 100% de debentures, por alta possibilidade de calote.

Página 26:

A Odebrecht demonstra que o valor real da OPI seria de R$ 2,1 bilhões, o econômico (descontados os documentos passíveis de calote), R$ 578,5 milhões, e o valor a ser liquidado (com desconto), R$ 404,9 milhões

Página 27

Assinaturas do relatório, formulado pela empresa APSIS

Anexo 4 – página 24

A OPI revela possuir 11% das cotas da Arena de Itaquera e lista simulações de faturamento

Anexo 4 – página 25

A OPI informa que, para honrar as dívidas do estádio, o Corinthians, através da Arena Itaquera S/A (acionista da SPE Arena), precisará de sucessivos aportes (financeiros) e nova captação de debentures.

Indica também que as parcelas do empréstimo do BNDES estão atrasadas.

Anexo 4 – página 26:

A OPI informa que o valor de debentures emitidas ao Corinthians correspondem a R$ 610 milhões, mas que não conta com o pagamento diante da baixa geração de caixa do estádio e das altas dívidas presentes no negócio

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