Da FOLHA

Por MARILIZ PEREIRA JORGE

Para falar do PIB, presidente pôs um comediante em seu lugar

O contorcionismo que Jair Bolsonaro faz para não responder perguntas indesejadas é digno do Cirque du Soleil. Diante da missão de falar sobre o pobre desempenho do PIB, achou OK que um comediante tomasse o seu lugar e distribuísse bananas à imprensa.

Este governo é o que melhor ilustra a máxima “se cobrir com lona, vira circo; se trancar a porta, vira hospício”. E, se era por falta de palhaço, o circo Bolsonaro está completo. No dia a dia, temos o próprio presidente, que se acha muito engraçado, apesar de só fazer piadas desrespeitosas e de mau gosto. Agora, ganhou um comediante para chamar de seu, Márvio Lúcio, o Carioca.

Na terça (3), Carioca gravou com Bolsonaro um quadro para o Domingo Espetacular (Record). No dia seguinte, tomou café da manhã com o presidente e teria sugerido que se passasse por ele na saída do Alvorada. Chegou no carro em que estava o chefe da Secom, Fabio Wajngarten.

Com Bolsonaro como coadjuvante de uma das cenas mais patéticas deste governo, Carioca tripudiou sobre os jornalistas. Ao chancelar o episódio, com direito à transmissão no Facebook, batizada de “Bolsonabo no Alvorada”, o presidente rasga a cartilha que orienta autoridades a não exporem profissionais de imprensa, um dia após sua divulgação.

Humor político, por essência, é oposição. Não à toa, a ditadura censurou e prendeu humoristas. De lá para cá, todos os presidentes foram alvo da turma da comédia. Entre os poucos que seguiram caminho contrário está o criador de Dilma Bolada, acusado de ser pago para promover a imagem da ex-presidente.

Agora essa. Tivesse acontecido em outro ambiente, a caricatura de Bolsonaro e as bananas, feita por Carioca, poderia ser lida como uma crítica ao comportamento nefasto do presidente. Ao se colocar ao lado dele, inclusive nas redes sociais, o comediante confirma que humor que não incomoda quem está no poder não é humor, é puxa-saquismo.

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