Gaguinho era um rapaz pobre, pedia dinheiro na porta dos estádios e dizia lutar contra um corrupto que assombrava seu suposto time de coração.
Nessa época, apaixonou-se e noivou.
O tal presidente caiu e Gaguinho, junto com o sucessor, passou de torcedor indignado a membro do poder.
Iniciou de baixo, passou a embolsar dinheiro de pequenas obras do clube e, inserido entre os confiáveis da gestão, assumiu a direção de futebol.
Sem receber salários, oficialmente, duma hora para outra, enriqueceu.
A noiva percebeu quando deixou de dividir as despesas e, quase semanalmente, passou a receber caros presentes.
Em regra, joias e afins.
“Qual a origem do dinheiro?”, questionava, sem porém receber resposta convincente.
Atento, o pai da noiva, Autoridade, puxou a ficha do sujeito e, escandalizado, exigiu o rompimento do relacionamento.
A filha, entendendo a gravidade da situação, deu-lhe um ‘pé’, devolvendo os presentes que Gaguinho, desesperado, recusava-se a receber.
Sorte nos ‘rolos’, azar no amor.
Gaguinho chorou, esperneou, mas de nada adiantou.
O tempo passou, alguns anos, e veio a recaída.
Recentemente, a ex-noiva recebeu encomenda: dentro dela um novo colar de brilhantes com dizeres esperançosos de Gaguinho, apesar dele manter-se em namoro com outra pessoa.
Em meio à desilusão amorosa, o ex-pedinte, agora cartola, ostenta riqueza que não pode comprovar, evidenciando o que todos sabem acontecer, mas fingem, alguns, não enxergar.
O conto, revelador do mundo de facilidades que cerca o futebol, é baseado em fatos reais.
Passeios de parentes ao exterior, apartamentos em bairros nobres, joias, restaurantes caros, camarote na ‘Arena’, a honra de alguns, seguem sendo comprados pelo protagonista, mas a verdadeira ‘pedra preciosa’ de sua vida foi perdida quando a ganância assumiu o controle, escanteando a honestidade.
Gaguinho nunca foi um menino pobre. Veio de família no mínimo classe média.
Morou grande parte da vida em bons bairros, transitando entre Santana e os arredores da Av. Paulista.
Estudou em bons colégios e só foi parar em escolas “ruins” porque estudar não era seu forte.