Por ROBERTO VIEIRA

Ninguém lembra, ninguém.

Pode perguntar a quem mora nas casas ao lado.

Pode perguntar ao garçom do barzinho na esquina.

Ninguém lembra, ninguém.

Era uma quinta-feira.

23 de julho de 1981.

Um dia de semana qualquer quando Ele desembarcou no Guararapes.

Gordo.

Inusitadamente anônimo.

Entrou num carro a sua espera.

Foi olhando a cidade de Recife.

Recife onde ele enfrentara Nenzinho.

Nenzinho vinha com tudo pra cima Dele.

A torcida ria:

“Volta Nenzinho que a bola tá com Ele!”

Mas seu destino era Paulista.

Mais precisamente o Estádio Municipal de Paulista.

Em obras.

O prefeito Ademir Cunha e o presidente da FPF, Rubem Moreira, presentes.

Junto com uma multidão de meninos.

Pobres. Sonhadores como Ele.

Ele deu entrevistas.

Posou ao lado dos políticos.

E plantou a primeira muda de grama do estádio.

Mãos sujas. Olhar nos meninos:

“Faz tempo que eu não me sentia tão importante num campo de futebol!”

As crianças correram para abraçar o velho craque.

Ele entrou no carro e partiu.

Ninguém lembra, ninguém.

Pode perguntar a quem mora nas casas ao lado.

Pode perguntar ao garçom do barzinho na esquina.

Ninguém lembra, ninguém.

O Estádio Municipal de Paulista recebeu o nome de Estádio Ademir Cunha.

Por um desses dribles da vida e do futebol.

Mas o gramado. Maltratado e de pernas tortas.

Não se conforma.

Pra quem ama o futebol.

O pequeno e acanhado campo.

Será sempre o Estádio do Mané!

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