Gleguer

O Blog do Paulinho teve acesso a áudios e documentos que comprovam grande esquema de corrupção no Guarani de Campinas, durante a gestão do presidente Horley Alberto Cavalcanti Senna (2014 a 2017).

A informação é de que todos os dirigentes de futebol (profissional e base) à época estariam envolvidos, uns por ação, outros, omissão (sabiam, mas fechavam os olhos).

Horley utilizava-se de “laranjas” (sob promessa de 10% à título de comissionamento) para vender vagas a jogadores (em regra, meninos) no clube, dissimulando os recebimentos em contratos fictícios de patrocínios (amarrados com os pais).

Um de seus prepostos era o ex-goleiro Gleguer, hoje comentarista da rádio e, eventualmente, tv BAND.

Num dos casos, ocorrido em dezembro de 2017, a dupla tomou R$ 15 mil do Sr. Marco Antônio, residente na cidade de Brumadinho/MG (famosa pela recente tragédia da barragem da VALE), sob promessa de contrato de três anos para que o filho Diogo Oliveira (15 anos) fosse aproveitado como goleiro do clube.

A transferência foi efetivada em 11 de dezembro de 2017, às 12h03m, no banco Itaú, agencia 0277, conta corrente nº 86481-5, em nome de Gleguer Zorzin.

Porém, três meses após, o garoto foi dispensado.

Marco Antônio, em contato com o Blog do Paulinho, detalhou a operação:

“Paulinho, um amigo de Brumadinho disse que tinha conhecimento para colocar meu filho no Guarani… que havia um contato direto com o Presidente… eu, pai, desesperado para dar futuro ao meu filho, entrei nessa”

“Depois de alguns dias, o sujeito disse que “estava tudo certo” com o Horley, que era o presidente do clube, e que deveríamos encontrar com ele em Campinas/SP para conversar e preparar a documentação”

“No dia 07 de dezembro, uma quinta-feira, sai de Brumadinho para a reunião (marcada para as 09h), porém, quem estava me esperando, num Shopping, era o Gleguer”

“A conversa foi difícil, cheguei até a ficar nervoso, porque ele exigiu R$ 15 mil, na hora, para que meu filho jogasse no Guarani: “todo mundo paga”, disse… eu tentei fazer a transferência por telefone, mas não consegui… ele, então, passou a me pressionar: “não vai pagar ? Está só enrolando…”

“Durante todo o tempo, o Gleguer esteve ao telefone com o Horley, que nitidamente o orientava”

“Ficou claro, pra mim, que o Horley era o cabeça e o Gleguer somente intermediário”

“Consegui, então, convencê-lo a esperar até a semana seguinte, quando tentaria arrumar o dinheiro com objetivo de realizar o sonho do meu filho”

“Na segunda-feira fui ao banco, fiz um empréstimo, em condições bem ruins, deixando como garantia minha propriedade, que perdi depois, e, na sequência, transferi o dinheiro para o Gleguer, na conta pessoal dele”

“Assim que concretizado o pagamento, eu e o Diogo fomos recebidos pelo Horley no Brinco de Ouro, que garantiu-me, pessoalmente, o contrato de três anos”

Diogo e Horley no Brinco de Ouro, com a camisa de Brumadinho

“Apesar da promessa de apresentá-lo em janeiro, somente em fevereiro meu filho chegou ao Guarani, sendo recebido pelo diretor da base, que sabia de tudo, porque falou: “Diogo? Indicação do Horley, pode entrar…””

“Três meses depois o Horley dispensou meu filho… pouco tempo antes, porém, perguntou se eu seria empresário do Diogo… respondi sim… talvez ele não tenha gostado”

“Para justificar ter mandado meu filho embora, Horley disse que havia mudado a diretoria do Guarani, e que ele, desde então, não tinha mais voz ativa… pedi então meu dinheiro de volta, mas eles (Gleguer incluido) disseram que “não tinha mais como reaver””

De fato, assim que o novo presidente do Guarani, Palmeron Mendes Filho, assumiu o cargo no Bugre, ainda em 2017, diversos jogadores a base foram dispensados, segundo fontes, todos contratados no “esquema” de Horley.

O caso do garoto Diogo se transformará agora em ações cíveis e penais (por estelionato), em que os nomes citados na postagem, além do próprio clube, deverão, tudo indica, arcar com substanciais indenizações.


OUTRO LADO

Gleguer e Diogo

Procurado pelo blog, Gleguer, nitidamente nervoso, no primeiro momento tentou desmentir que tratava-se de um esquema de cooptação de atletas, alinhando o discurso com os procedimentos de Horley:

“Eu conheci o Marco através de um amigo (não soube dizer o nome), que disse-me que ele teria interesse em patrocinar o clube”

“Os R$ 15 mil eram dinheiro de patrocínio, nem sabia que tinha garoto envolvido… se aconteceu algo foi dentro do Guarani, depois, eu não tenho nada a ver com isso”

“O Horley pediu para que o dinheiro fosse depositado na minha conta… não sei explicar as razões… depois eu transferi para o clube… não ganhei nada…”

“O Guarani tem tanta confiança em mim que eu intermediei o patrocínio da Brasil Trader para eles (o negócio foi fechado em setembro de 2018, indicando parceria de Gleguer, também, com a atual gestão bugrina)… eles pagam 10% de comissão para quem traz negócios”

No dia seguinte, ontem (21), ao perceber não apenas que a matéria seria publicada, mas também que as provas eram irrefutáveis, Gleguer confessou:

“Eu sabia do menino… o Horley tinha esse esquema de utilizar laranjas para tomar dinheiro, colocar jogadores no Guarani e depois disfarçar em contratos de patrocínio, obrigando os pais a assiná-los”

“Eu fui um desses “laranjas””

O ex-goleiro enviou ao blog comprovantes de que teria repassado, integralmente, a quantia recebida ao Guarani, porém, as duas transferências, em datas distintas, além de aparentarem negócios diferentes, ultrapassam a soma depositada pelo pai de Diogo:

  • R$ 9 mil (dos R$ 15 mil) no dia 13/12/2017, que sugerem R$ 6 mil de comissão, ou seja, exatos 40%, bem mais do que os 10% falados por Gleguer;
  • R$ 7 mil no dia 11/01/2018

Questionado sobre a diferença de R$ 1 mil a mais do que o que havia sido depositado em sua conta, Gleguer respondeu:

“(…) devo ter me enganado”

Ligamos e deixamos mensagens no whatsapp de Horley, que preferiu não atender às solicitações.

EM TEMPO: o Blog do Paulinho aguardou, durante toda a manhã, por um prometido pronunciamento do Guarani, que não aconteceu.

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