Bastaram cinco meses de continuidade da administração do grupo “Renovação e Transparência”, após as eleições realizadas em fevereiro, para que a dura realidade do Corinthians, fruto de herança de atos cometidos pelos próprios – no poder há longos onze anos, superassem as fantasiosas promessas de campanha.

Diante do caos financeiro explicitado e da ineficiência de seus homens de confiança nos departamentos mais relevantes do clube, o apoio “incondicional” de alguns desapareceu, enquanto oportunistas famosos tentam surfar no quadro desolador atual.

Alçado à condição de “primeiro-ministro” do Corinthians, apesar de, oficialmente, ocupar o cargo de diretor de marketing, Luis Paulo Rosenberg dá as cartas neste departamento, nos negócios do estádio e também na pasta de finanças, onde inseriu como preposto um corretor de seguros com ligações familiares na Odebrecht.

Nada funcionou.

O clube segue sem patrocínio master e até nos mais simples voltou a fechar negócios com empresas irrelevantes; os “naming-rigths do estádio – sempre “encaminhados” em discurso, viraram chacota e as contas nunca estiveram tão ruins.

As dívidas do Corinthians são tantas, entre as factíveis – com fatura à porta, e as que estão por estourar – ações trabalhistas e processos que empurram calotes em impostos com a barriga, que tornam-se, diante da falta de transparência prometida, difíceis de serem precisamente calculadas.

Nesse contexto, os recebíveis para amortização das pendências estão cada vez mais escassos, inviabilizando planejamentos de curto e longo prazo.

Estão comprometidos: direitos de transmissão e dinheiro da Nike (adiantados cinco anos para frente), empréstimos diversos, percentuais de jogadores em todas as categorias, patrimônio imobiliário – em garantias de dívidas (desde o Parque São Jorge, passando pelo CT da Ayrton Senna e também o estádio de Itaquera – incluindo utilização do terreno, faturamento de ingressos (por, no mínimo, doze anos), as contas bancárias – todas bloqueadas, os recebíveis por cartão de crédito – confiscados, etc.

E não há o que se falar em “herança maldita” quando os herdeiros são os próprios ocasionadores da desgraça.

O grupo “Renovação e Transparência” recebeu o clube com quase R$ 100 milhões em caixa, em 2007, e hoje, mesmo tendo realizado mais de R$ 1 bilhão em transações de jogadores na última década, não consegue explicar a escassez improvável de recursos.

A cada ano, mesmo com faturamento recorde em bilheterias (no período pré-Itaquera, em que ainda podia dispor dos recursos), patrocínios e direitos de tv, o Corinthians fechava seu balanço com números ruins e crescimento nos contratos de empréstimos.

Concomitantemente, dirigentes do clube, não remunerados, enriqueceram, assim como os agentes de atletas que por eles circulam como se fosse satélites de planetas.

Este quadro, a bem da verdade, não é recente, mas vinha sendo mascarado por bons resultados no futebol – fruto do trabalho de dois treinadores, Tite e Fábio Carille, que souberam isolar o vestiários das tramoias administrativas, e pela ação orquestrada de uma mídia que comia nas mãos, e por vezes amparava-se no bolso, da cartolada alvinegra.

Nos últimos meses, porém, ao lotear o poder do clube para seus homens de confiança: Luis Paulo Rosenberg e André Negão, para que pudesse agir com liberdade no futebol – os diretores apenas obedecem ordens, o presidente Andres Sanches cometeu grave erro, que está colocando a perder sua habitual “cortina de fumaça”.

Para contextualizar: ainda na gestão Roberto Andrade, o parlamentar condicionou trabalhar contra o impeachment do presidente desde que algumas reivindicações fossem atendidas, entre as quais, substituição do treinador Fabio Carille por Osmar Loss – da sua patota, e domínio absoluto dos cargos mais relevantes das categorias de base.

No departamento amador, tudo correu a contento, com a efetivação do notório contraventor Jaça na diretoria -padrinho de Sanches no Timão, e a ampliação de esquemas com agentes de jogadores no setor.

Andres não contava, porém, logo após colocar Loss como auxiliar de Carille – para derrubá-lo, que o treinador alvinegro iniciasse sequencias improváveis de bons trabalhos, vencendo campeonatos Paulista e Brasileiro, inviabilizando qualquer tomada radical de posição.

Vale lembrar, Sanches não era ainda presidente e Roberto Andrade não teria como assumir, sem razões plausíveis, a demissão duma comissão técnica vencedora.

Bastou, porém, a vitória do deputado no pleito de cinco meses atrás para que Carille – que antes havia recusado sair do Timão, repensar e evitar tornar-se vítima do “jogo sujo” na primeira sequência negativa de resultados.

Com a saída do empecilho, Andres efetivou Loss – a quem sempre vendeu, dentro do clube, como responsável pelo sucesso do futebol em 2017, alçando ainda como auxiliar o ex-jogador Coelho, a quem agenciava desde os tempos de juvenil.

O balcão de negócios, por razões evidentes, intensificou-se, porém, diferentemente doutros tempos, não havia profissional qualificado no banco de reservas para resolver os problemas.

Com o desandar do futebol, os apoiadores de Andres Sanches no Parque São Jorge sumiram das fotografias e pouco tem comparecido às festividades.

Desembargadores que sempre encontravam tempo livre, passaram a ter agendas cheias, empresários de grandes empresas e até de instituições de ensino assustaram-se, políticos retraíram-se e o barco, desde então, vem sendo esvaziado.

É essa gente, que sempre destinou sustentação financeira, jurídica e operacional aos cartolas alvinegros, mesmo após denúncias diversas de malfeitos – inclusive na “Operação Lava-Jato” que precisa ser cobrada, junto com os infratores, pela conivência em meio ao caos que ultrapassa o período de uma década.

Por fim, diante da escassez de reais opositores a este grupo que vem gerando tantas preocupações aos corinthianos (dá para contar nos dedos os que nunca estiveram ao lado destes dirigentes), em meio desastre, surgem os oportunistas, não se sabe com intenções de adesão à gestão – para dela partilhar as benesses, ou de lucrar politicamente com discurso demagogo.

Abaixo, trechos de mensagem enviada pelo candidato derrotado nas últimas eleições alvinegras, Romeu Tuma Junior (último colocado entre cinco postulantes) – que, publicamente, sempre tratou os atuais dirigentes alvinegros como bandidos, a alguns conselheiros e associados do Corinthians, logo após a derrota por três a um para o São Paulo:

“Sempre fui de brigar, bater, discutir, mas, francamente, entendo que o momento é tão grave que a lógica deve ser invertida: primeiro devemos buscar um diálogo objetivando soluções, depois crucificamos os culpados”

Tuma, que se diz oposicionista, em vez de querer ver os supostos assaltantes do Corinthians fora do clube, parece querer sentar com Sanches para dialogar, assim como fez com Lula ao aceitar cargo na gestão petista – a quem, pelo que escreveu em seu livro, já sabia de quem se tratava, e com Paulo Li, durante trinta anos, sem saber que o sujeito operava contrabando chinês no Brasil.

Mas não parou por ai:

“Bater boca entre nós ou mesmo com a Diretoria, nesse momento e tão somente nesse momento só vai agravar a crise”

“Obviamente para isso todos tem que colaborar e ter disposição em dialogar (…) especialmente a direção,que, creio, não recusará”

É nesse mundo, coabitado por aproveitadores, espertalhões e oportunistas, que um clube com a grandeza do Corinthians, gerador de grandes emoções, mas também de muita riqueza, vem sendo administrado nos últimos tempos, desta vez, porém, com mais dificuldades e menos adeptos para ajudar a esconder a sujeira embaixo do tapete.

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