O Corinthians elegeu, novamente, um Presidente absolutamente enrolado na Justiça, com hábitos conhecidos do grande público, que levaram o clube, nos últimos anos, ao caos financeiro e a enriquecer meia dúzia de pessoas – inclusive o próprio, às custas de negociatas de todos os tipos, principalmente de jogadores.

É o retrato do povo brasileiro que pouco se importa com a corrupção.

A campanha para reconduzir Andres Sanches, oficialmente, ao posto máximo alvinegro (que já exercia por influência), teve exemplos claros e determinantes do que pode haver de mais sujo num período eleitoral.

Existia, até o início de janeiro, a clara sensação – confirmada por pesquisas de opinião e pela movimentação no Parque São Jorge, de que o vencedor das eleições seria o oposicionista Roque Citadini, que agradava ao público com discurso de austeridade administrativa e o fim dos privilégios a quem quer que seja.

O candidato, de maneira inédita, não prometeu cargos e ainda assim angariava apoios da maioria dos 66,1% de eleitores que não votaram em Andres Sanches (o parlamentar recebeu apenas 33,9% dos votos).

Foi o suficiente para àqueles que sobrevivem, direta ou indiretamente, do clube ligarem e sinal de alerta, e iniciarem o conluio.

Era primordial derrubar o “contra-sistema” para inserir no poder o único que tinha apoio suficiente – ainda que menor do que em tempos anteriores, para manter as coisas como estavam.

É nesse contexto que surgiu a candidatura do empresário Paulo Garcia, com objetivo único de retirar votos de Citadini, estimulado pelo desejo de manter os negócios da família do Parque São Jorge, principalmente a milionária parceria do agente de jogadores Fernando Garcia, seu irmão, com o deputado do PT.

O dono da Kalunga aprontou o Diabo nas eleições.

Assumiu compra de votos, chegou a ser afastado (num suspeito parecer de uma comissão eleitoral, que deu brecha ao retorno por liminar judicial), voltou à disputa e, mesmo com a imoralidade escancarada, amparado na impunidade, ampliou o investimento em cooptação, gastando, segundo cálculos aproximados, mais de R$ 1 milhão em envio de presentes, caríssimos, a eleitores, na semana decisiva.

Ainda assim, para atingir o objetivo, Garcia contou com a ação, agora nitidamente clara na possibilidade de combinação, do ex-delegado Tuma Junior, a quem teria ajudado a reequipar o escritório com generosos R$ 200 mil, que fomentou um associado palmeirense a reclamar suposta irregularidade do alvo, Citadini, junto à Comissão Eleitoral, que, mesmo formada por três desembargadores, decidiu impugna-lo, ao arrepio da Lei, decisão esta reformada, na sequência, pelo TJ-SP.

Magistrados estes que, nos últimos anos, a pretexto de chefiar delegações do Timão, cansaram de viajar por diversos lugares do Planeta, frequentando bons hotéis, festas e benesses diversas, todas bancadas pelos caixas alvinegros.

Voltando a Paulo Garcia, bastava apenas o boato de que o adversário, Citadini, não poderia assumir a presidência alvinegra, mesmo que eleito, para que o estrago eleitoral desejado pudesse ser executado, à custa de muita divulgação falsa de informação.

Desde então, o dono da Kalunga, além de Tuma e Ezabella abandonaram a campanha de propostas para executar a de colocar medo, amparado em “fake-news”, nos eleitores de quem precisava ser abatido.

Diariamente, telefonemas a associados, diretamente ou através de “institutos de pesquisas”, difundiram o mantra da “impossibilidade de Citadini assumir à presidência”, que acabou por transferir, definitivamente, parte dos votos a Paulo Garcia, que apresentava-se, sem verdade, como único capaz de derrotar Andres Sanches, quando o objetivo, desde sempre, foi o de garantir a eleição do parlamentar.

O Jogo Sujo deu resultado.

Ontem, durante todas as eleições do Corinthians, o quadro político era bem claro: Paulo Garcia, Andres Sanches, Ezabella e Romeu Tuma Junior abraçavam-se por terem conseguido impedir, cada qual a sua maneira, a chegada ao poder do candidato que contrariava o sistema, enquanto Citadini, do outro lado do clube, tentava reverter o ardil, conversando com o eleitor.

Não deu.

Boa parte do eleitorado já estava envenenado com a massificação da mentira, que contou, infelizmente, com ajuda da mídia para difundi-la.

Como resultado desta conjunção de imoralidades, o Corinthians será gerido, nos próximos anos, se não totalmente por Andres Sanches (que corre risco de ser preso por diversas ações criminais a que responde no STF), por quem sobrar de seu grupo; Paulo Garcia colocará os seus em boa situação na diretoria, mantendo, ainda, lucrativa fonte de recursos a ser trabalhada pelo irmão, Fernando; Tuma Junior tentará se eleger na vida pública, fora do clube, certamente com financiamento da Kalunga ou doutra empresa a ela coligada e Ezabella trabalhará a reaproximação ao poder.

A Citadini restará a constatação de que o Brasil, assim como o Corinthians – retrato fiel do nosso povo, não está preparado para ser tocado por gente séria, com boa conduta pessoal e, principalmente, coragem para combater um sistema sujo, que não mede esforços para tirar do jogo quem ousar enfrentá-lo.

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