Grid girls húngaras caminham pelo tapete vermelho no Grand Prix da Hungria, no circuito de Hungaroring, perto de Budapeste

Da FOLHA

Por MARILIZ PEREIRA JORGE

Acabar com a tradição é uma medida para proteger a modalidade de denúncias

Grid girls não estarão presentes na temporada 2018 de Fórmula 1, que começa em março, na Austrália. O fim da tradição dividiu opiniões ao redor do mundo. Enquanto movimentos feministas comemoram, os mais tradicionalistas afirmam que a ausência das garotas vai diminuir o “glamour” do esporte.

Não deixa de ser curioso que alguém acredite que é preciso encher um ambiente predominantemente masculino de mulheres jovens, bonitas e gostosas para que uma competição esportiva fique mais atraente, mas vá lá.

Ainda acho que esse tipo de decisão é paliativa para diminuir o machismo no mundo e apenas afeta um mercado de trabalho bastante rentável às garotas que se submetem a vestir roupas sexy para fazer sombra aos pilotos e entreter equipes e convidados nos paddocks.

Como já me manifestei anteriormente, na ocasião do fim de Las Boquitas, as dançarinas da torcida do Boca Juniors, qualquer tipo de atividade que envolva mulheres servindo de entretenimento aos olhos masculinos deveria definhar por falta de interesse de candidatas e não por uma canetada vinda de um grupo de homens, como aconteceu no episódio do Boca e agora na F1.

Ao redor do mundo, o fim da era das grid girls apenas agrada a pequenos grupos que decidem quando o corpo feminino é objetificado e quando isso precisa ser combatido. Faltou combinar com as envolvidas. A mudança causou descontentamento às garotas que se viram desempregadas. Muitas delas foram às redes sociais se manifestar e algumas culparam as feministas, o que é uma bobagem.

Quem também não gostou foi uma legião de fãs do esporte, pilotos e comentaristas esportivos. Mas uma coisa precisa ser dita. As meninas do grid desde sempre tiveram fama de garotas de programa. Algumas podem mesmo fazer uns trocados aproveitando a proximidade com pilotos e equipes, o que sempre é sinônimo de dinheiro e fama. Mas não dá para generalizar. Muitas delas, talvez a maioria, encaram o trabalho como mais um dos que fazem como modelos ou recepcionistas.

O fato é que muitos dos que lamentam são aqueles que as tratam sem a menor dignidade. Há inúmeros relatos de assédio, abusos e xingamentos que as garotas aturam caladas, muitas vezes se equilibrando em cima de saltos altos, durante horas e horas. No entanto, deveria ser uma decisão delas se prestar a esse papel decorativo, sem nenhuma função prática a não ser a de posar como um troféu ao lado dos pilotos.

Mas em tempos de #MeToo não é estranha, embora radical, a medida tomada por Sean Bratches, diretor de Operações da Liberty Media que cuida dos direitos de transmissão da F1. “Acreditamos que o costume não combina com os valores da marca e está em desacordo com as normas sociais atuais”, disse.

Por trás do discurso politicamente correto, a impressão é de que a F-1 está se protegendo para que a onda de denúncias não chegue ao seu circo milionário, como aconteceu no jantar de gala beneficente do President’s Club Charity Dinner.

Empresários, políticos e celebridades foram acusados de bolinar, assediar e insultar recepcionistas contratadas para o evento anual que levanta fundos para um hospital infantil, em Londres.

Mais do que socialmente consciente, a medida da F1 parece apenas preventiva contra escândalos.

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