Paulo Li e Romeu Tuma Junior em viagem à China

“(…) por dois anos Romeu Tuma Junior foi entrevistado duplo, para utilizar uma expressão, meio assim, policialesca, e de uma forma estulta, parva, eu diria até mesmo, tresloucada e totalmente inútil, evidentemente…”

“Essa saída (do Governo) tinha sido, em boa parte, provocada por pressões da mídia nativa, que apontava para as relações do Romeu Junior com um cidadão chinês acusado de contrabando”

(Mino Carta – editor de Carta Capital)


Logo após o lançamento de “Assassinato de Reputações”, livro em que Romeu Tuma Junior tenta justificar sua demissão do Governo Lula como se fosse vítima de grande conspiração, com elementos de “Arquivo X”, quando, em verdade, tratou-se de desdobramentos ocasionados por sua relação umbilical com o contrabandista chinês Paulo Li – que prestou serviço a seu ilibado pai por trinta anos, o jornalista Mino Carta revelou detalhes da confecção da obra.

Por dois anos o ex-secretário nacional de justiça preparou sua versão dos fatos, com o auxílio do editor de Carta Capital, para depois, segundo relato, traí-lo com a revista Veja, a mesma que havia listado o Senador Tuma como dono de contas ligadas a Daniel Dantas, nas Ilhas Cayman.

Com absoluta elegância, Carta deixa a entender que o livro contém colocações incomprováveis, fruto da imaginação de quem assinou como autor, já que, o escritor, de fato, foi o jornalista Claudio Tognoli.

Realmente é difícil entender como Tuma Junior, em sendo honesto, aceitaria trabalhar com alguém como Lula – comprovadamente desonesto, mesmo sabedor, há anos, do que relatou em suas memórias.

Assista ao vídeo em que Mino Carta conta o que sabe sobre os bastidores de “Assassinato de Reputações” (fica melhor com a imagem), mas, se não puder ver, leia na sequência a transcrição:

TRANSCRIÇÃO

Hoje eu quero falar de um caso que me entristece muito… muito…

Bastante tempo atrás… já não sei dizer quando, exatamente, Romeu Tuma Junior, filho do Senador, então Secretário Nacional do Ministério da Justiça, saiu do Governo e ficou muito deprimido.

Essa saída tinha sido, em boa parte, provocada por pressões da mídia nativa, que apontava para as relações do Romeu Junior com um cidadão chinês acusado de contrabando.

Já o Romeu achava que as razões eram outras ou, pelo menos, iam além desta razão inicial e residiam no fato de que ele havia, lá pelas tantas, como Secretário Nacional, determinado a apreensão dos bens… o bloqueio dos bens de Daniel Dantas, o banqueiro do Opportunity, fora do Brasil, à sombra da célebre “Operação Satiagraha”.

O próprio comportamento do Daniel Dantas, em função dessa Operação, conduzida pela Polícia Federal, o caso Batisti, por incrível que pareça a lição, em função da presença de um elo chamado Luiz Eduardo Greenhalgh, um importante petista e, ao mesmo tempo, advogado tanto do banqueiro quanto do terrorista assassino, o célebre Cesare Batisti, que goza de um asilo no Brasil totalmente imerecido e até constrangedor.

O Romeu Junior estava muito, muito deprimido… eu estava com ele e comigo também estava o Paulo Henrique Amorim, e ambos dissemos a ele: “Põe por escrito essa história, se você quiser…nós podemos fazer uma entrevista a partir dela”

Ele (Tuma) achou a ideia muito boa… o desespero dele estava motivado, também, da certeza de que o pai dele, com a saída dele do Governo, tinha sofrido um impacto fatal, decisivo para que ele acabasse morto antes do previsto.

Então ele disse que achava ótima a ideia e partimos para uma série de entrevistas.

O Paulo Henrique, na verdade, por razões de trabalho dele, por estar envolvido em outras aventuras jornalísticas, remeteu para nós uma lista de perguntas, todas relacionadas com a atividade do Sr. Daniel Dantas, e nós, digo nós porque agregou-se à operação o Sérgio Lirio, redator chefe desta revista, e começamos a desenvolver uma série de entrevistas que se davam às segundas-feiras, na redação de Carta Capital – longas entrevistas, trabalhosas… e essa operação alongou-se por bem mais do que um ano.

Lá pelas tantas, surge na internet a informação de que Romeu Junior estava preparando um livro juntamente com o jornalista Tognolli.

A coisa surpreendeu Sérgio Lirio, que deixou recado na secretária eletrônica do Romeu Junior dizendo: “mas como isso é possível, o que está fazendo, como é que é ?”

Romeu Junior “ofendeu-se” terrivelmente com essa história…disse que era inacreditável que Sergio Lirio pudesse duvidar da “honra” dele, da “lisura de comportamento” dele… da “honra”…

Eu pedi desculpas (risos) e disse: “não… mas é claro… imagine… foi um deslize do Sérgio…”, mas não é que o Sérgio estava certo, naquela oportunidade ? Que já remonta há muitos meses atrás.

Mas o Romeu Junior, depois de desmentir essa informação da internet, continuou a me informar que tinham umas correções a serem feitas, em relação a um ou outro ponto da longa entrevista, que Sérgio e eu já havíamos produzido… já estava tudo pronto, mas ele queria fazer uns retoques e estava prevista uma introdução dele para este “livro-entrevista”.

Então, eu comecei a cobrar estas sugestões de alterações, aqui e acolá, e o texto dele para a introdução do livro… falamos disso, ainda, um mês atrás… ele nada me disse a respeito do que iria acontecer…

Eu estive viajando, por duas semanas, e de volta da viagem fui surpreendido pela publicação de uma matéria jornalística, acompanhada por uma entrevista do Romeu Junior, publicada pela revista VEJA, a qual, diga-se, perseguiu o próprio Romeu com uma ferocidade inaudita, quando veio à baila a relação dele com o tal contrabandista.

Revista VEJA esta, que além de tudo, publicou – vejam só os estranhos caminhos deste enredo singular, um dossiê do Daniel Dantas, fornecido pelo Daniel Dantas, sobre contas brasileiras em (Ilhas) Cayman, que o Daniel Dantas conhece “de cor e salteado”, evidentemente…

Então, entre os apontados como titulares dessas contas, além do próprio Presidente da República, o então Presidente da República, o nosso querido Lula, havia também um belo espaço para o Senador Romeu Tuma “senior”… o pai…

Pois então, na própria VEJA, surge esta matéria, com Romeu Tuma Junior, para vulgarizar a saída iminente do livro dele, para torná-la pública e reforçá-la, numa versão que absolutamente não coincide com aquilo que nós colhemos durante estas entrevistas às segundas-feiras… pelo menos não coincide em largas partes, porque acrescenta bastante, e porque aduz motivos novos, conta histórias, até então, não contadas, provavelmente graças à “pena feliz” do jornalista Tognolli.

Eu quero deixar claro, o que me cabe dizer neste momento: se o Romeu Junior tivesse chegado e tivesse dito ao Sérgio Lirio e a mim, que nós não poderíamos endossar certas declarações dele, certas acusações dele, ou por falta de provas ou porque não poderíamos concordar com elas… se ele tivesse chegado a isso, para sustentar a necessidade dele de desferir uma saraivada à 360 graus, eu teria entendido, teria dito “Pois não, claro, imagine, a decisão é sua, o livro é seu, então escolha à vontade…”.

Nada disso foi dito.

Então, por dois anos Romeu Tuma Junior foi entrevistado duplo, para utilizar uma expressão, assim, meio policialesca, e de uma forma estulta, parva, eu diria até mesmo, tresloucada e totalmente inútil, evidentemente…

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