Da FOLHA

Por BERNARDO MELLO FRANCO

Ao recorrer contra o afastamento imposto pelo Supremo, a defesa de Aécio Neves afirmou que ele não pode “ser tratado como um funcionário público qualquer”. A expressão ajuda a entender o levante que uniu senadores de partidos rivais em defesa do tucano.

O Senado se reuniu nesta terça para discutir se deveria confrontar o tribunal. Réus e investigados da Lava Jato fizeram os discursos mais inflamados, tratando os parlamentares como intocáveis. “O que nós estamos vendo no Brasil hoje? Está se perdendo o respeito”, esbravejou Romero Jucá, que parece ter perdido a fé num acordão para estancar a sangria “com o Supremo, com tudo”.

O senador Fernando Collor disse que os colegas deveriam se insurgir em defesa de Aécio. Ele chamou os últimos dois procuradores-gerais da República de “canalha”, “calhorda” e “sujeitinhos à toa”. Para sensibilizar o plenário, disse que o Legislativo estaria sendo “achincalhado” e “criminalizado” pelo Judiciário.

O peemedebista Jader Barbalho, preso e algemado no escândalo da Sudam, foi além. “Hoje me parece que existem membros do Poder Judiciário sonhando com ditadura”, acusou, sem citar um único nome. O senador Renan Calheiros, alvo de 17 inquéritos no Supremo, engrossou o coro. “Estamos vivendo no Brasil um Estado policialesco”, sentenciou.

Em outro trecho do discurso, Jucá descreveu investigações que envolvem congressistas como “atentados” contra a democracia e “o povo deste país”. Ele alegou que a Lava Jato teria a intenção de “acabar com a classe política, os partidos, o governo”.

O senador Aécio foi gravado quando pedia R$ 2 milhões a um empresário. No diálogo, ele acrescentou que o dinheiro deveria ser entregue a alguém “que a gente mata ele antes de fazer delação”. Ao defender o tucano, Jucá citou Jesus Cristo e comparou os juízes a Pilatos. “A turba agora julga, condena e executa”, protestou. Faltou dizer quem encarnaria o ladrão Barrabás.

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