Da FOLHA

Por MARILIZ PEREIRA JORGE

Com Paris confirmada como sede da Olimpíada de 2024, os franceses já disseram que vão levar para a mesa de negociação a inclusão do videogame, chamado agora de e-sport, como modalidade esportiva. A discussão é necessária, mas talvez o ponto mais importante nem seja mais decidir se videogame é esporte ou não.

Se tem disputa, eventos organizados, atrai fãs e seduz milhares de praticantes, deveria ser considerado esporte legítimo. É esse o argumento de Tony Estanguet, medalhista na canoagem e co-presidente do comitê francês. Ele está certo. Mas por essa lógica, xadrez deveria ser incluído na competição.

A diferença entre xadrez e e-sport são os números. A estimativa é de que existam mais de dois bilhões de gamers no mundo e que o esporte movimente cerca de U$ 100 bilhões.
O ponto fundamental, que não deveria ser ignorado, é se o formato do esporte funcionaria numa competição como a Olimpíada e se atrairia os melhores jogadores do mundo e com eles a audiência esperada. Um evento desse só se sustenta sobre esses dois pilares: talento e interesse do público.

É saudável que haja revezamento de modalidades, que elas sejam testadas para que os Jogos mantenham aquelas que atraem não apenas público, mas suas principais estrelas. O beisebol volta em 2020 no Japão, graças à popularidade que tem no país (atrás apenas de judô e sumô) e também pelo lobby feito pelo comitê japonês, que conseguiu convencer o COI (Comitê Olímpico Internacional) de que isso atrairia bons patrocinadores.

O esporte fez sua estreia em Barcelona, em 1992, e foi excluído de Londres, em 2012, depois de cinco edições, justamente pela falta de apelo e representatividade mundial. Vimos isso acontecer com o golfe na Rio-2016. Os craques não deram as caras porque perderiam dinheiro deixando de participar dos circuitos mundiais em troca da experiência numa Olimpíada. Prioridades. E o desempenho da modalidade está na mira do COI.

Em Tóquio, teremos surfe, skate, escalada, caratê, além do beisebol. Essas aquisições mostram como os esportes que atraem audiência jovem estão sendo privilegiados.

Paris tem pressa porque as mudanças nesse cardápio esportivo precisam ser aprovadas dentro de um prazo curto. Se quiser ter videogame em 2024 a hora é agora.

Um sinal de que a campanha do comitê organizador de Paris tem alguma chance de ser frutífera é que o e-sport foi legitimado pelos Jogos Asiáticos e estará no evento de 2022. Os franceses entendem que a inclusão do videogame é uma necessidade para que os Jogos mantenham sua relevância entre as novas gerações.

Resta saber como incluir uma “modalidade” que tem centenas de milhares de opções. Candy Crush, jogo que virou modinha num passado recente e deixou muita gente viciada, é game, assim como Overwatch, que tem conquistado milhões de fãs ao redor do mundo.

O mau desempenho da nossa “seleção” na Copa do Mundo de Overwatch deste ano, em uma das cinco fases realizada na semana passada, despertou a ira dos torcedores brasileiros. Houve discussão feia na internet sobre a qualidade dos jogadores, a escalação e a eliminação. Muita gente que não passa perto de um estádio de futebol, mas que não sai da frente do computador. É bom mesmo o COI ficar de olho.

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