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Da FOLHA

Por MARILIZ PEREIRA JORGE

Nem bem terminou a primeira semana de Olimpíada, começaram as cobranças ora de articulistas ora de torcedores entusiasmados para que a imprensa estrangeira e nacional pedisse desculpas pelas “críticas e pelo pessimismo”.

Como se o fato de o evento ter sido um sucesso transformasse tudo que foi criticado, cobrado, denunciado em notícias infundadas. Não eram e não são.

A baía da Guanabara continua poluída. As águas mais claras celebradas na competição contaram com dois fatores: a sorte e o truque. Primeiro, não choveu forte, o que poderia ter levado lixo à área de provas, e a corrente sul garantiu águas limpas.

No quesito maquiagem-para-gringo-ver, comportas de esgoto na região da baía foram fechadas no dia 8 e reabertas no domingo (21). Um vídeo publicado pela Associação de Amigos e Moradores de Botafogo mostra quando o esgoto voltou a jorrar no Aterro do Flamengo.

“A água estava muito clara e limpa nestas duas semanas. Eu saio de caiaque todos os dias e ali é puro esgoto. Está voltando tudo ao normal”, contou Lorena Mossa, frequentadora do local.

Mesmo com o truque, a belga Evi Van Acker, bronze em Londres e favorita ao pódio na classe laser radical, ficou doente após competir na baía. Sem a manobra da Cedae (Companhia Estadual de Águas e Esgoto do Rio), poderia ter sido pior. Azar de Van Acker ter ficado com dor de barriga.

Outro fator questionado era a segurança, que funcionou bem. Se 85 mil soldados e policiais não fossem o suficiente, nada mais seria. Mesmo assim, houve casos de bala perdida, tentativas de assalto com morte, tiroteio em favela, fogo cruzado na Linha Vermelha.

O trânsito também era um ponto crítico, e, se o metrô não tivesse ficado pronto a tempo, possibilidade que o governo estadual admitiu, teria sido um desastre.

Por último, faz todo o sentido a imprensa ter questionado a capacidade do país de organizar um megaevento. Falhamos em quesitos básicos como entrada, alimentação e inspeção. Milhares de torcedores perderam parte das competições porque não conseguiram entrar a tempo nas arenas. Muitas vezes, a inspeção era relaxada para dar maior vazão, o que poderia comprometer a segurança. Precisamos falar da comida ruim, com poucas opções e cara?

Não há do que se desculpar. Escrever posts ufanistas é passatempo de internauta. Press releases falando como tudo será perfeito é trabalho de assessoria. Quem faz o trabalho pesado de apurar, denunciar, criticar, cobrar é a imprensa. Jornalista não é animador de torcida. É chato, mas muitas vezes só tem notícia ruim.

Quer uma boa? Dia 7 de setembro tem mais, começa a Paraolimpíada. E, com tudo que vimos até agora, o Rio tem a chance de fazer o melhor evento da história.

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