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EDITORIAL DA FOLHA

Os Estados Unidos parecem encaminhar-se para uma insólita eleição presidencial em 8 de novembro, sob um clima de aguda polarização ideológica.

Na quinta-feira (28), o Partido Democrata oficializou Hillary Clinton como a primeira mulher a postular o cargo por uma das duas grandes agremiações. Sua capacitação e experiência são vistas, por parcela do eleitorado, como profissionalismo robótico.

Seus adversários ressaltam os elos da senadora por Nova York com o establishment financeiro, e pairam dúvidas sobre sua conduta em episódios cruciais no período em que foi secretária de Estado do presidente Barack Obama.

Por esses motivos ou outros, a ex-primeira-dama é alvo de altas taxas de rejeição eleitoral, próximas às de seu rival, o empresário Donald Trump. Mas a semelhança termina aí.

Trump é um aventureiro que tomou de assalto o Partido Republicano ao cavalgar uma surpreendente onda de ressentimento étnico e de populismo nacionalista, apresentando-se como candidato anti-establishment.

Age com truculência e vulgaridade inauditas na política americana, marcada pela disputa áspera, mas cordata. Pouco se sabe de seu programa, exceto por fanfarronadas como a construção de um muro na fronteira com o México, a ser pago pelo país vizinho, já esbulhado em metade de seu território no século 19.

O cerne do eleitorado de Trump parece estar nos estratos inferiores da imensa classe média norte-americana, fragilizados pela profunda crise econômica do fim da década passada.

Conforme essa linha de análise, a recuperação em curso, que permitirá a Obama encerrar seu mandato com boa aprovação, é lastreada em ganhos de produtividade relacionados à destruição de empregos naqueles estratos.

A polarização acentuou-se agora, mas vem crescendo há décadas, mesmo após a extinção do antagonismo com o bloco soviético. Segundo outra linha de interpretação, o processo refletiria o aumento da desigualdade de renda no país, com relativo estreitamento das camadas médias.

As pesquisas eleitorais sugerem que os postulantes estão empatados, com ligeira vantagem para a democrata. Pelo que Donald Trump representa em termos de risco internacional, dados seu alarmante despreparo e a xenofobia beligerante de sua campanha, vê-lo derrotado não configura uma questão partidária, nem se reduz ao âmbito norte-americano, mas convém ao mundo inteiro.

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