É fato de que o Presidente Michel Temer não possui a popularidade de seus antecessores, e, ainda assim, até corajosamente, tem evitado bravatas populares para, em meio a acertos doloridos, como as mudanças econômicas que nos obrigarão a pagar a conta da roubalheira petista, e equívocos desnecessários, entre os quais o fim do Ministério da Cultura (felizmente revisto), tocar o novo Governo.
É elogiável, também, a postura diante dos Governos de boa parte do Mercosul, que se apresentam “populares”, mas, em verdade, enriquecem ditadores.
Porém, alçado ao cargo em meio a um levante popular e político (popular por indignação, político pela ocasião) contra a manutenção no poder de uma quadrilha perigosa e organizada, comandada pelo PT, esperava-se, ao menos, o mínimo de inteligência na escolha ministerial.
Alguns dirão, como vem dizendo: “Ah! Mas os nomes estão sendo indicados pelos partidos, o presidente está sendo obrigado a engolir”.
Não há a necessidade de ser assim.
Principalmente pelo fato de Temer ter deixado claro que não concorrerá à reeleição, ou seja, estaria, em tese, desobrigado a realizar certas medidas de submissão às conhecidas chantagens dessa bandidagem que comanda a maioria do cenário político nacional.
Hoje, por exemplo, os principais órgãos de imprensa nacional trazem à tona gravações deploráveis de um Romero Jucá conspirando contra a Policia Federal e sua “Operação Lava-Jato”, que se juntam ao conhecido e lamentável histórico político deste que nada deve, moralmente, eticamente e em procedimentos aos que estão condenados pelos crimes do mensalão e petrolão.
Temer deveria, ao menos, ter lutado para evitar 70% dos nomes empossados como Ministros de seu Governo.
Poucos se salvam, em meio a corruptos notórios, representantes de estelionatários evangélicos e prepostos de gangster da política.
“Ah! Mas o Temer tem que agradar esses partidos, senão o Senado volta atrás e cancela o impeachment de Dilma Rousseff”, é o que muitos falam em defesa do escárnio.
Um presidente voltado a fazer história, a mudar e melhorar o país, se estadista for, não pode se submeter a chantagens, e sim “governar”, dar o melhor de si, seja por seis meses ou pelo tempo que lhe restar no poder.
Aceitar que seu grupo de trabalho seja tão ruim quanto o antecessor, fruto de impeachment, investigações e condenações, é trocar a quadrilha organizada por pistoleiros solitários (ou a serviço de pequenos grupos), que, noutras proporções, continuarão a servir-se (ou a seus comandantes) de recursos oriundos de hábitos suspeitos e passado sombrio.
CONFIRA ABAIXO TRANSCRIÇÃO DE ÁUDIO DE CONVERSA DO MINISTRO ROMERO JUCÁ COM SÉRGIO MACHADO, OPERADOR DO PMDB NA TRANSPETRO, DOIS MESES ANTES DO IMPEACHMENT:
“SÉRGIO MACHADO – Mas viu, Romero, então eu acho a situação gravíssima.
ROMERO JUCÁ – Eu ontem fui muito claro. […] Eu só acho o seguinte: com Dilma não dá, com a situação que está. Não adianta esse projeto de mandar o Lula para cá ser ministro, para tocar um gabinete, isso termina por jogar no chão a expectativa da economia. Porque se o Lula entrar, ele vai falar para a CUT, para o MST, é só quem ouve ele mais, quem dá algum crédito, o resto ninguém dá mais credito a ele para porra nenhuma. Concorda comigo? O Lula vai reunir ali com os setores empresariais?
MACHADO – Agora, ele acordou a militância do PT.
JUCÁ – Sim.
MACHADO – Aquele pessoal que resistiu acordou e vai dar merda.
JUCÁ – Eu acho que…
MACHADO – Tem que ter um impeachment.
JUCÁ – Tem que ter impeachment. Não tem saída.
MACHADO – E quem segurar, segura.
JUCÁ – Foi boa a conversa mas vamos ter outras pela frente.
MACHADO – Acontece o seguinte, objetivamente falando, com o negócio que o Supremo fez [autorizou prisões logo após decisões de segunda instância], vai todo mundo delatar.
JUCÁ – Exatamente, e vai sobrar muito. O Marcelo e a Odebrecht vão fazer.
MACHADO – Odebrecht vai fazer.
JUCÁ – Seletiva, mas vai fazer.
MACHADO – Queiroz [Galvão] não sei se vai fazer ou não. A Camargo [Corrêa] vai fazer ou não. Eu estou muito preocupado porque eu acho que… O Janot [procurador-geral da República] está a fim de pegar vocês. E acha que eu sou o caminho.
[…]
JUCÁ – Você tem que ver com seu advogado como é que a gente pode ajudar. […] Tem que ser política, advogado não encontra [inaudível]. Se é político, como é a política? Tem que resolver essa porra… Tem que mudar o governo pra poder estancar essa sangria.
[…]
MACHADO – Rapaz, a solução mais fácil era botar o Michel [Temer].
JUCÁ – Só o Renan [Calheiros] que está contra essa porra. ‘Porque não gosta do Michel, porque o Michel é Eduardo Cunha’. Gente, esquece o Eduardo Cunha, o Eduardo Cunha está morto, porra.
MACHADO – É um acordo, botar o Michel, num grande acordo nacional.
JUCÁ – Com o Supremo, com tudo.
MACHADO – Com tudo, aí parava tudo.
JUCÁ – É. Delimitava onde está, pronto”.