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Da FOLHA

Por TOSTÃO

Por causa do sucesso, Vanderlei Luxemburgo se achou um deus, mais sábio que a sabedoria

Dirceu Lopes, um dos craques que não jogaram uma Copa do Mundo, disse, décadas atrás, que ninguém está preparado para a fama. Concordo, muito menos Luxemburgo. A fama costuma enriquecer o patrimônio e empobrecer o ser humano.

Por causa do sucesso, Luxemburgo se achou um deus, mais sábio que a sabedoria. Criou até o Instituto Vanderlei Luxemburgo, uma heresia. Ele continua o mesmo. Suas entrevistas têm sido ridículas.

Em 1998, fui a Santos entrevistá-lo para a ESPN Brasil. Na entrada de sua casa, havia um imenso retrato do treinador, todo retocado. Não tinha visto nada tão narcisista e tão brega.

Muitos jornalistas falam que Luxemburgo não dá treinos como antes. Ele, em sua megalomania, diz que os grandes e modernos treinadores comandam e entregam aos auxiliares o trabalho de campo. Luxemburgo é também criticado por querer ser mais que um treinador, um gerente, e de levar vantagem ao indicar jogadores agenciados por seus amigos empresários. Ele nega. Diz que muitos treinadores europeus fazem o mesmo.

Falta a Luxemburgo o que Tite tem muito, confiabilidade, para lembrar do “titês”.

Não tenho nenhuma certeza, mas desconfio, deduzo, que Mano Menezes, ao sair surpreendentemente do Flamengo, já tinha conversado com o Corinthians, mesmo se não tivesse acertado. Da mesma forma, imagino que Felipão, quando saiu do Palmeiras, já tinha combinado com a CBF. Na época, Felipão era consultor do Ministério dos Esportes. Penso ainda que Guardiola, quando anunciou que ficaria um ano sem trabalhar, já tinha assinado contrato com o Bayern.

Assim como ocorre em todas as atividades, muitos treinadores, mesmo os que acompanham a evolução do futebol e que valorizam a ciência estatística, acreditam mais no que um dia deu certo do que no conhecimento, como se suas experiências fossem mais importantes que a ciência. O tempo passa, e eles continuam enamorados pelo passado.

Os últimos times de Luxemburgo atuaram como as equipes comandadas por ele, há 15 anos. O futebol mudou. Luxemburgo poderia fazer um curso de reciclagem no Cruzeiro, com Marcelo.

Na Copa de 1970, impressionaram-me os treinamentos e conhecimentos de Zagallo. Ele estava muito à frente dos outros técnicos. No Mundial de 1998, assisti, como comentarista, a todos os treinos da seleção, e Zagallo repetia tudo o que tinha feito 28 anos atrás, mesmo diante de outra realidade.

Como há inúmeros fatores importantes no sucesso de uma equipe –o treinador é um deles–, fico na dúvida se Luxemburgo era, no auge, tão excepcional quanto diziam. O raciocínio pode ser outro, se os últimos fracassos do treinador foram mais por outros motivos, que Luxemburgo não tinha controle, do que por sua ineficiência. As duas visões devem estar certas.

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