Por FRANCISCO MICHIELIN*

Em adendo às pertinentes observações do meu caro amigo José Renato, devo, antes de mais tudo e de mais nada, dizer que com ele compartilho em gênero e número. Não há como não deixar de concordar.

Eis que também andei escrevendo meus livros sobre futebol – um deles, aliás, absolutamente único, na época, quando se deveria ter comemorado com o alarde necessário o cinquentenário da primeira conquista brasileira, na Copa do Mundo da Suécia. Produzi um livro que recebeu inúmeros elogios, inclusive no estrangeiro e que obteve citação em diversos sites da literatura esportiva internacional.

Em troca, no nosso país, recebi, sim, importantes e significativos reconhecimentos. Poderia citar cronistas de renomada competência que assim procederam. Da mesma forma – e foi a maioria – mesmo notificados, preferiram o silêncio ou ignorar o lançamento. Aqui, também, eu poderia mencionar seus nomes. Para ambos os casos, guardei as respectivas condutas. Com alegrias de um lado e com mágoas – sem rancores – de outro.

Pessoas do ramo me passaram suas opiniões, expondo seus argumentos. Bem coerentes e prudentes. Em primeiro lugar, o descaso por não terem sido “eles”, os tais, a terem se dedicado ao tema. Ciumeira? Não sei. Mas, depois que compulsei um livro com a pretensão de apontar os “cem melhores jogadores de todos os tempos” e não encontrei nenhuma citação, por exemplo, excluído e marginalizado, do grandíssimo Ademir Marques de Menezes, o famoso “Queixada”, artilheiro da Copa do Mundo de 1950 e nosso maior goleador numa única competição desse porte, com nove gols, enquanto constavam da lista jogadores de muitíssimo menos prestígio, cheguei à conclusão de que a boçalidade está acima da seriedade.

Registrei aos dois autores a minha decepção. Um deles, educadamente, me respondeu, embora sem me convencer. O outro, que julga saber tudo o que é detalhe, referindo minutos de jogos, nem sequer se dignou a postar a mais mísera resposta.

O mesmo aconteceu com outro desses da “Mídia Superior” ao comentar a Copa do Mundo de 1962, em cujas primeiras cinquenta páginas incorreu em seis crassos e absurdos erros. Inclusive citando que Garrincha “se deu ao luxo de perder um pênalti contra a Inglaterra”. Mas de onde esse senhor terá tirado essa heresia? Além de outras derrapadas históricas, comprometendo o texto, algumas fotos não correspondem a quem realmente se referem.

Por sinal: registrei essas informações para a editora responsável, a fim de se redimir e se desculpar perante eventuais leitores, apresentando a necessária “Errata” e, evidentemente, fui escorraçado. O pior é para quem lê, crente, acreditando piamente que por ter sido o “fulano” que escreveu que se pode confiar e dar fé.

Incrivelmente, no chamado “País do Futebol” a produção literária é de uma escassez inadmissível. Dir-se-á que não é da nossa cultura, mas as livrarias europeias estão abarrotadas de textos sobre qualquer assunto ligado ao futebol. E, depois, como vai se criar o costume da leitura se não existem quem se habilite a pesquisar e publicar? Com raras e honrosas exceções.

Nós que gostamos de ler e de escrever, mas que não pertencemos a nenhum órgão da mídia maior ou menor, sabemos o quanto é difícil botar um livro de futebol na vitrina. Muitas editoras têm receio de apostar e investir num autor desconhecido do grande público. Outras, temem entrar nesse segmento. E os jornalistas que mais deveriam nos apoiar se calam e nos fecham as portas. Nenhuma notícia, entrevista, então, nem sonhar.

*FRANCISCO MICHIELIN é médico e amigo do escritor José Renato Satiro Santiago

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