Da FOLHA DE SÃO PAULO

Por RICARDO GALLO

Dona Nadir ligou brava para a rádio predileta naquele outubro de 2000.

O apresentador do CBN Esporte Clube não havia falado as horas no ar -o que a fizera esquecer-se de tomar seus remédios.

Juca Kfouri recebeu o recado ao chegar para o programa, que estreara na noite anterior (“Rádio é prestação de serviço. Ele tem que falar a hora”).

Obedeceu: “Dona Nadir, tá na hora de tomar o seu remédio. Oito e meia”, disse.

Às 21h, novo aviso.

Ela gostou.

No outro dia, deixou mais um recado -era muita gentileza de Juca, colunista desta Folha, avisá-la.

Os remédios eram necessários desde que um AVC, em 1993, paralisou parte do seu corpo e a deixou em cadeira de rodas.

A doença, aliada a um problema na visão, fez do rádio sua companhia diária.

Pois dona Nadir e seus remédios viraram bordão e passaram a ser lembrados no programa todos os dias.

Até entrevistada ela já foi: no dia em que um convidado faltou, entrou no ar para falar de futebol -são-paulina, disse ter visto Leônidas da Silva estrear pelo tricolor em 1942.

Eduardo, um dos filhos, não sabia desse detalhe, mas lembrava da mãe bem-humorada, piadista e ansiosa.

Nascida em São Simão (SP), ela foi professora até 1972, quando virou dona de casa.

No dia 11, internada havia quatro dias, dona Nadir morreu de parada cardiorrespiratória.

Tinha 74 anos. Deixou o marido, dois filhos, um neto e o radinho portátil.

Ao saber da morte, Juca decidiu: às 20h30 e às 21h, continuaria a falar do remédio.

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