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    A reportagem que publicamos, há uma semana, sobre o desvio de R$ 633 mil do projeto Segundo Tempo, pela ONG Novo Horizonte, é apenas a ponta o iceberg de um escândalo maior. Ou, como diria o presidente Lula da Silva, é uma “marolinha” anunciando que o tsunami vem aí.

     Ao governo, porém, nada disso assusta, mas para os desportistas de um país candidato à sede olímpica é uma vergonha espetacular ver o seu principal órgão gestor do dinheiro público — o Ministério do Esporte — agindo com fragilidade administrativa impressionante.

     Nesse órgão, dirigido pelo ministro Orlando Silva, notícias como esta e tantas outras que publicamos são classificadas como “negativas”, assunto de comentário passado. Ou seja, para os analistas ministeriais a culpa é da imprensa…               

     Negativo, porém, é o ministério estar incapacitado tecnicamente para administrar o dinheiro que distribui sem critério nem fiscalização adequadas.

     Negativo é ter um quadro de assessores de ocasião, políticos do PC do B disfarçados de funcionários públicos, que denigrem a imagem de um órgão que deveria ser orgulho da comunidade esportiva.

     Negativo é ter um Conselho Nacional de Esportes que apenas dá o aval às ações ministeriais, sem questionar a impotência do governo na implantação de uma política de esportes efetiva, fixando prioridades para o uso do dinheiro, que é um bem público.

     Negativo é gerenciar um programa como o Segundo Tempo, de inegável apelo político para campanhas eleitorais, ignorando o desenvolvimento técnico dos jovens atendidos.

     Negativo é se tornar parceiro de entidades de fachada, que usam cadastro falso para se beneficiarem de dinheiro público do Segundo Tempo de forma fraudulenta.

     Negativo é aceitar notas fiscais frias em prestações de contas do Segundo Tempo, para justificar despesas que não houve, caracterizando-se o desvio do dinheiro.

     Negativo, enfim, é fechar os olhos às denúncias e cobranças do Tribunal de Contas da União e do Ministério Público às dezenas de irregularidades que se somam, atingindo a atual gestão e a anterior do Ministério do Esporte.                    

     Sobre tudo isso, é oportuno lembrar a farra de quatro instituições do Distrito Federal fizeram, entre 2005 e 2007, quando receberam R$ 4,7 milhões do Ministério do Esporte para aplicarem em projetos do segundo tempo. Uma investigação oficial em curso desnudará essa fraude, oportunamente.                   

     E por que tratamos desse assunto insistentemente?

     Porque, sete anos depois de ter sido criado, o Ministério do Esporte perdeu a credibilidade e se tornou sinônimo da irregularidade pública. Ao tratarmos das denúncias de falcatruas no Segundo Tempo, não falamos de caso exclusivo, mas o ministério responde por outras dezenas de irregularidades e suspeitas de fraudes em contratos dos Jogos Pan-americanos do Rio de Janeiro, em 2007.                 

     E o que diz o governo sobre tudo isso? Do Ministério do Esporte recebemos respostas evasivas, dizendo que “já sabia sobre as denúncias” e até “tinha se antecipado às decisões de suspender convênios”, etc.

    Diz mais o governo.

    Em sua coluna semanal “O presidente responde”, Lula da Silva ignora as denúncias ao responder à professora universitária, Natália Miranda, de Natal. Ela indagou como o governo evitará sangria de dinheiro público nas obras para a Copa do Mundo de 2014, a exemplo da que ocorreu nas obras para os Jogos Pan-americanos de 2007 — gastos R$ 4 bilhões”?

     A resposta presidencial:

     “Não houve sangria do dinheiro público. Os investimentos no Pan superaram o previsto porque o planejamento inicial, que não foi da responsabilidade do nosso governo, não previu itens necessários para a execução do evento, como, por exemplo, segurança pública e a capacidade de 45 mil lugares do estádio João Havelange, projetado para apenas 10 mil pessoas. O governo federal teve que arcar com compromissos do estado e do município, o que não acontecerá com a Copa de 2014. Vamos fazer um planejamento detalhado das obras e depois reunir representantes dos estados e dos municípios sedes para definir responsabilidades, dando transparência ao processo. O Ministério do Esporte vai monitorar as obras para que tudo esteja pronto antes de 2014.”

    Quem, mesmo, Presidente, vai monitorar?

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