Da FOLHA DE SÃO PAULO

Por XICO SÁ

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Caipira defensor do Palmeiras e todos os santos terrenos, rogai por nós, e vida longa embaixo ou fora das traves

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A MIGO TORCEDOR , amigo secador, existem criaturas a quem os deuses dão muito, mas de quem os homens exigem mais ainda para glorificá-los. Um deles é Marcos Roberto Silveira Reis, caipira de Oriente (SP), o boa-praça que defende o gol do Palmeiras e mais ainda a dignidade na vida contra as flechas envenenadas do mau-caratismo.

Por muito menos, falsos milagrosos foram idolatrados, enquanto que, por algumas falhas do ofício, ele foi posto em xeque. Ninguém teve suas humaníssimas falhas tão repetidas pelo videoteipe. Ninguém tem sido tão dependente dos milagres como ele, cuja trajetória se parece com a de outro canonizado pelas massas, sim, ele, o Fenômeno.

Fazer a sua parte é fazer sempre muito mais que os outros. Sempre quase nada marqueteiro, que só nos parece visível nas noites milagrosas. Duro, Marcão, ser festejado só sob a tenda dos milagres, jamais nas atuações normais. Duríssimo, meu velho, precisaste, novamente, de mais uma jornada regida pelas tábuas do sobrenatural para que te celebrassem. Até traíras internos espocaram champanhes e caramurus.

Pena, meu caro, que tenha sido justamente contra o Sport, na noite em que o Leão da Ilha foi mais bravo do que nunca, apesar do zarolhismo ludopédico de alguns que te enxergavam em outro lugar da meta. Mas não seria esse mais um superpoder? Dirás, como é do feitio, que ninguém ganha sozinho etc, mas diga, meu velho, onde estava o Palmeiras naquela noite abafada? Foste tu, ô marvado, que paraste a fera.

Vi o jogo com Serginho Barbosa, amigo timbu doente de férias em São Paulo. O cabra secava, com um risinho, o aguerrido Leão do Norte e orava: “Com São Marcos, pênalti não é loteria, é certeza absoluta”. Sim, um menino lá quase atrasou a bola, de tão fraco, tão capenga.

Mas, amigo, assim chutou por medo e susto diante da tua nobre figura encolhedora de travessões. Eu que não queria um dia estar na pele de um batedor com tamanha responsa. Mesmo que eu fosse um frio e sanguinolento Sandro Goiano da vida. Má sorte a do rubro-negro que te pegou pela frente em mais uma noite iluminada. Tantos Madureiras peruanos, tantas babas nas cordilheiras, tantos classificados biônicos (como Nacional e São Paulo), e o Sport, grande como nunca, se depara com a divindade de um goleiro. São Marcos e todos os santos terrenos, rogai por nós que recorremos a vós, e vida longa embaixo ou fora das traves.

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