Da CARTA CAPITAL
(texto retirado do Observatório da Imprensa)
http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=536IMQ004
Por LEANDRO FORTES
Li na Folha de S.Paulo uma admoestação do ombudsman, dirigida à redação, na qual ele manifesta estranheza pelo fato de os jornalistas de lá não terem se debruçado sobre a fala do ministro Joaquim Barbosa, do STF, aquela sobre os “capangas” do colega Gilmar Mendes, presidente do referido tribunal. De minha parte, estranheza nenhuma. A fonte do desabafo do juiz Joaquim é uma matéria da CartaCapital, de minha autoria, publicada em novembro de 2008. E a Folha, assim como os veículos co-irmãos da chamada “grande imprensa”, não repercutem as reportagens da Carta, embora não meçam esforços para reproduzir – de forma acrítica e sem apuração própria – pautas publicadas em outras revistas, como se notícias fossem, ainda que claríssimos atentados ao bom e velho jornalismo de guerra.
Bom esclarecer que na reportagem em questão não acuso Mendes de ter capangas, mas apenas faço um relato preciso – jornalístico, por assim dizer – da realidade política da escaldante Diamantino, no Mato Grosso, cidade natal do atual presidente do STF. Uma realidade marcada por um histórico nascido na ditadura militar e reforçado a partir da entronização de Gilmar Mendes, no governo Fernando Henrique Cardoso, na Advocacia Geral da União.
A omertà em torno da CartaCapital tem várias razões, mas sustenta-se em um pretexto. Entre as razões, nenhuma minimamente jornalística, daí a necessidade do pretexto, este calcado na suposta irrelevância da tiragem da revista, quando não na sua identidade ideológica cafona, de esquerda. Eu, de minha parte, acho graça. Em mais de duas décadas de reportagem, com passagem por quase todos os grandes veículos de comunicação do país, nunca fui tão reverenciado como jornalista como nesses anos de Carta.
Nas muitas palestras que faço Brasil afora, principalmente por conta de minha atividade como professor de jornalismo, percebo uma curiosidade enorme das audiências a respeito desse silêncio. “Por que os jornais não repercutem a Carta?”, me perguntam em auditórios, em salas de aula, em particular. Respondo com outra pergunta, expediente, aliás, que não me agrada: “Repercutir para quê?”.
Assaltados por dúvidas
Dentro da acepção canhestra e doutrinária do pensamento único, repercutir a Carta é dar vazão a uma voz jornalística subversiva, perigosamente empenhada em nadar contra a corrente, a colocar os cornos para fora e acima da manada, tal qual a vaca profana da canção de Caetano. Profaníssima, há de se ressaltar, no caso em questão, a ousar escrever sobre o ministro Gilmar Mendes, justo quando todo o resto se compraz em dar-lhe voz e espaço na luta contra um certo “Estado policial” muito parecido, em semântica e progressão epidêmica, com essa gripe suína que já matou, desgraçadamente, até última contagem dos urubus de plantão, 0,0000000000000000000001% da população mundial. E aí? Repercutir para quê?
Depois da bronca do ombudsman, me veio uma resposta meio boba, por muito óbvia: ao menos, para evitar certos vexames frente ao leitor. Emblemático, pois, é o caso dos tais “capangas”, fantasmas a assombrar a citação do ministro Joaquim Barbosa para uns tantos. Citação esta, no entanto, imediatamente decodificada pelos leitores da CartaCapital e por uns outros mais, informados que andam – alvíssaras! – pela blogosfera, essa corregedoria deliciosamente inconveniente da mídia nacional.
Aqueles espremidos na linha de montagem da “grande mídia” ficaram com cara de paisagem, a discutir veleidades, não sem a ajuda de uma ciosa tropa de colunistas, sobre os graus de demência ou de ferocidade do juiz Joaquim. Aos poucos, contudo, vão descobrindo a origem da informação, um cochicho dando conta de uma penosa viagem a Diamantino, sussurros de uma apuração difícil, cheia de portas fechadas e documentos arrancados a fórceps ou repassados sob o manto do medo e da perseguição. Boatos de uma alegre aventura de repórter.
E, talvez, assaltados por dúvidas, comecem a perguntar, uns aos outros, em mensagens a editores, em e-mails a ombudsmans e ouvidores de quilate semelhante: “Então, por que não repercutem a Carta?”.
Eu, daqui, repito, acho graça.
Este panfleto travestido de revista sobrevive graças ao que recebe do governo do PT e retribui atacando todos que lhes são contra (governo do PT). A Folha apesar de ser o maior refúgio de jornalistas petista do país (vou citar apenas 3 – Clovis Rossi, Fernando Rodrigues e Josias de Souza) não entra na onda do folhetim.
A Carta Capital pode não ser o melhor instrumento de informação de que dispomos, mas é com certeza um dos melhores. O fato de acolher jornalistas postos a pontapés dos grupos dos Civita, dos Frias e dos Marinho por negarem a seguir a cartilha já a credencia por si só.
Caríssimo Paulinho !
Parabéns mais uma vez por dar voz a quem ousa desafiar o coro dos contentes. A densidade do texto de Leandro Fortes é um poderoso antídoto à colocações simplistas e godofrênicas.
Não só os citados jornalistas da Folha não são petistas, como frequentemente criticam os erros e desmandos do governo Lula.
Por outro lado, continua ocupando espaço privilegiado no citado jornal, a canhestra e anacrônica figura de sarney, personificação de uma das estruturas de mando coronelísticas mais atrasadas do país. Não surpreende encontrá-lo de mãos dadas com seu congênere do STF.
Já a Carta Capital é um exemplo de como, mesmo contando com verbas de publicidade de estatais, pode se praticar um jornalismo crítico e independente. O silêncio diamantino da Folha é de uma eloquência cristalina !
O leitores de Veja chamam Gilmar de “grande democrata”. É mole?
Não se pode sair acusando sem provas ou por mera suposição. Isso ainda vai dar uma crise sem tamanho e com consequencias graves. Se a lei é imperfeita? que se mude atraves dos instrumentos e não por idealismo
Talvez o problema não seja o ótimo Leandro Fortes ou a Carta, mas sim ‘o’ Carta que adora afagar o atual governo Lula, e vice-versa.
Sou assinante de Veja, mas não acredito em tudo, leio Carta Capital e Época e formo juízo de valor próprio.
Como seria bom um semanário acima dessas influências, seja de direita ou de esquerda, executivo ou judiciário.
Assim como fazem com a revista Caros Amigos , a Carta e discriminada pela grande imprensa.
Carta Capital simplesmente é um bando de jornalistas mal resolvidos,que não conseguem voos maiores que se vendem por pequenos reclames do governo federal
Paulinho, este post foi para compensar os petistas que lhe desceram o sarrafo no outro post sobre o Bolsa Familia?