A Folha sempre tropeça em Sarney. Um dia cai

Por ALBERTO DINES

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Quando colunista da Folha de S.Paulo candidata-se ou assume um cargo público com visibilidade nacional é obrigado a deixar a coluna. Já aconteceu uma dúzia de vezes com figuras expressivas da vida nacional e, mesmo que os respectivos fãs-clubes esperneiem, aumenta o respeito do leitor fiel, atento aos procedimentos deontológicos do seu jornal.

A exceção à salutar prática tem sido José Sarney. O ex-presidente da República, senador amapo-maranhense, agora presidente do Senado e, portanto, chefe do Legislativo, resiste a qualquer norma moralizadora. Está no seu DNA, é o seu encanto.

A direção da Folha parte do pressuposto que não tem contas a prestar. Teoricamente, teria apenas aos acionistas. Como se verificou nas últimas semanas, e em diversos episódios, este tipo birra (vá lá) ou prepotência não fez bem à saúde de um jornal. Os leitores perceberam os vacilos, o próprio jornal os registrou.

Quando se trata de um grande jornal – caso da Folha – o bonapartismo só o apequena. E quando este bonapartismo junta-se a ilícitos e irregularidades, o jornal torna-se cúmplice.

Caso perdido

Sarney está em todas, é um caso perdido, não consegue conviver com a retidão. Sua eleição pelo estado do Amapá foi irregular, seu império jornalístico é irregular, suas ligações com o Banco Santos eram irregulares, o indecente curral eleitoral que instalou no Maranhão é irregular e sua filha retornou ao governo do Maranhão no tapetão, tremenda irregularidade. Ela perdeu a eleição e se o ganhador foi condenado por crime eleitoral, que se faça nova eleição.

Isto foi dito de forma contundente pelo editor de “Brasil” – a editoria política da Folha – Fernando de Barros Silva, na nobilíssima página 2 de segunda-feira (20/4).

É verdade que Sarney, bom malandro, não tem usado a coluna que assina (e raramente escreve) para defender de forma ostensiva os seus interesses. Usa-a como disfarce para um pretenso bom-mocismo. Mas a sua presença no jornal coloca automaticamente sob suspeição qualquer notícia ou comentário a seu respeito. Mesmo desfavorável – e não poderia ser diferente -, o leitor sempre encontrará motivos para imaginar que o texto foi atenuado ou minimizado para atender ao amigo “da Casa”.

O processo de desmoralização do Congresso materializou-se a partir de 3 de fevereiro, dia seguinte à eleição da dupla Sarney-Temer para presidir as duas Câmaras. E só tende a crescer porque desta vez, ao contrário dos escândalos anteriores, tem sido formidável a contribuição da esmagadora maioria dos 594 parlamentares.

A cada dia, um escândalo; a cada escândalo, a lembrança de que a figura central do esquema é colunista da Folha.

No dia em que Sarney for acertado pelos doidos bumerangues que zunem nos corredores brasilienses, vai sobrar para a Folha.

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