O técnico vencedor

Por SÓCRATES

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Toda discussão sobre as qualidades e defeitos do treinador da seleção brasileira e uma série de indagações sobre quem seria o técnico ideal para dirigir o nosso selecionado nos levam a uma questão absolutamente crucial e delicada: avaliar o nosso potencial neste campo de trabalho.

Temos uma série infindável de conhecedores de futebol, pois o público nos campos sabe reconhecer todos os parâmetros do esporte e é absolutamente crítico em relação à maioria dos treinadores. Quais são os mais qualificados para ocupar essa importante posição? Temos, aqui, uma difícil resposta.

Claro que é viável analisar a competência na execução das tarefas inerentes ao cargo, porém, a distância, torna-se temerário um conceito aprofundado por falta de proximidade com o trabalho de cada um deles. Temos de nos contentar com as informações advindas dos resultados táticos demonstrados no campo, o que fatalmente torna superficial e passível de erro qualquer tipo de afirmação.

Nossos treinadores mais conhecidos mantêm-se em constante movimentação no comando dos maiores clubes, já que seus trabalhos dependem fundamentalmente de resultados, o que torna quase impossível um projeto a longo prazo.

Nas últimas décadas, lembro-me de vários exemplos de maior longevidade nos cargos, como Telê no São Paulo e Luiz Felipe no Grêmio. Não por coincidência, os maiores ganhadores de títulos em torneios internacionais, acompanhados, em nível nacional, por Luxemburgo em sua primeira fase no Palestra Itália, onde permaneceu por um período bem maior do que a média nacional. Nos dias de hoje, o grande destaque é Muricy Ramalho, que acaba de se tornar tricampeão brasileiro.

Ao avaliar esses dados estatísticos, podemos dizer que estes são os grandes vencedores e provavelmente nossos melhores profissionais, porém, uma dúvida se instala em nossa análise quanto à carreira como um todo, incluindo as suas nuances, pois em determinados momentos e em equipes específicas não conseguem atingir níveis semelhantes. Obviamente, não estamos aqui pretendendo que times de mais baixa qualidade atinjam resultados excepcionais, mas, no mínimo, determinem um padrão de jogo compatível com os talentos humanos que possuem naquele momento.

Desses, Telê foi, até aqui, aquele de maior regularidade, apesar de ter dirigido por um tempo muito mais longo do que os demais. Praticamente, todas as equipes que por suas mãos passaram desenvolveram, com qualidade, grandes performances, mesmo que muitas vezes não tenham vencido as competições.

Da nova safra, os outros três possuem tudo para pleitear o cargo por suas vitoriosas carreiras e o perfil profissional, ainda que alguns pequem em detalhes de personalidade. Infelizmente, aqui por essas bandas, o mérito não é exatamente um critério valorizado, por isso muitas vezes vemos gente de menor capacitação ocupar postos-chave no organograma do nosso futebol.

Dia especial

Dia de festa, muita emoção, extrema expectativa, mobilização popular, congestionamento, nervosismo, encontros e desencontros, alegrias e tristezas, sorrisos e lágrimas, de um nó no peito, sonhos e esperanças, de preocupação e euforia, solidariedade e lembranças, afagos e desafogos, encantamento e sofreguidão, dia de acordar bem cedo, não esconder a ansiedade, conferir o ingresso, passar a camisa do time do coração, de confiança.

Dia de Morumbi cheio na expectativa de ver o seu time vencedor, não importa como: com gol de placa, de escanteio, de mão, com o juiz roubando, ou apenas gol, aquele que encarna toda uma visão do mundo muito particular e verdadeira.

Se não nos fazem vencer na vida, ao menos meu time me dê o gostinho de uma vitória, única que seja, mas com certeza aproveitada e valorizada. Que em cada bico de chuteira se perceba um pouco da vontade, da fibra de cada torcedor que se sacrifica como um animal de carga durante toda a existência para usufruir por poucos momentos o êxtase de ver seu time lá em cima. Que cada segundo deste espetáculo seja uma eternidade, para que se sinta um protagonista virtual representado por aqueles que, em campo, evoluem as fantasias persistentemente presentes.

Dia de sorrisos estampados em cada rosto ao se aproximar da arena que endeusará o vencedor, dia de depressão no olhar dos derrotados e de suprema satisfação nos vencedores, dia de liberdade, dia de felicidade, em que todos os males são protelados e temporariamente esquecidos, dia em que o simples se torna um monarca e passa a comandar o próprio destino.

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