Resposta à altura

Por SÓCRATES

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Depois de repreender em público o goleiro Marcos, ídolo da torcida e capitão do time, por ter criticado a própria equipe pelo comportamento na partida contra o Fluminense no Rio de Janeiro, desautorizando-o assim como o principal representante do time, após elogiar o capitão do São Paulo, Rogério, por sua iniciativa de viajar até Ipatinga para acompanhar a sua equipe mesmo sem poder jogar e, por tabela, desvalorizar a atitude de seu jogador, o técnico do Palmeiras teve uma resposta inesperada de seu pupilo durante a partida contra o Grêmio. Não é que, depois de sofrer o gol que deu a vitória ao adversário, o herói palmeirense resolveu que permanecer embaixo do travessão seria insuficiente para ajudar a sua equipe a reverter o placar e decidiu avançar para tentar o gol de empate em mais de uma oportunidade, contrariando as expectativas de seu treinador, claramente conservador mesmo na derrota. Uma bela reação de quem foi vilipendiado e cujo pedido de desculpas – provavelmente, a pedidos – não vai conseguir apagar da memória de quem acompanhou todo o enfrentamento das últimas semanas.

Comentarista por um dia

Não tenho nada com isso, pois ele não é meu contratado e, por isso, não necessita prestar contas a mim de seus atos. Não posso deixar de citar, porém, a surpresa ao ver o técnico palmeirense comentar o jogo de seu time, em vez de estar onde deveria (no banco de reservas), comandando a sua equipe. Pode até fazer parte de uma estratégia do Palmeiras para blindar seu floreado treinador nesta reta final de Campeonato Brasileiro, mas, se foi isso, o plano caiu por terra em segundos, ao aparecer na tevê inclusive criticando aquele que o substituía. É muita falta de bom senso um comportamento antiético desses, mas quem sou eu para discutir tamanha novidade?

Está certo que passamos por um período em que os valores estão muito distantes daqueles que formataram a humanidade no tempo de nossos pais, mas não deveríamos estimular atitudes como essa e, já que o veículo (a tevê) não é utilizado adequadamente para ajudar na educação da nação, ao menos não deveria oferecer maus exemplos. Por que não é possível que alguém veja essa iniciativa como natural e, se for, é sinal de que estamos condenados a ter ao nosso redor mais e mais condutas agressivas e irracionais, o que, convenhamos, não é o que sonhamos como ideal para a humanidade. Desculpem-me, não deveria estar aqui discutindo algo que não é de meu interesse, mas não podia deixar de expressar minha indignação.

Quem é o Vaucher?

Tenho participado com alguns amigos de um projeto do Paulo César Caju, chamado “Contadores de Histórias”, em que descrevemos algumas de nossas experiências no mundo do futebol, algumas extremamente exóticas. Eu gostaria de dividir uma delas com vocês, contada por Nelinho, um dos maiores laterais que o País já teve, excelente batedor de faltas que jogou comigo na seleção brasileira. Ela diz respeito a uma triste realidade a envolver os jogadores de futebol, decorrente da falta de melhor formação e, principalmente, do paternalismo que impera nesse meio, em que os atletas são desestimulados de realizar ações corriqueiras para os demais mortais, como fazer um check-in, por exemplo.

Pois é, um desses colegas, já aposentado, foi convidado a passar uma semana em um resort do Rio de Janeiro acompanhando alguns amigos. Estes fizeram todas as reservas e o aguardaram já hospedados na bela localidade. Ao chegar à portaria, o nosso amigo foi questionado pela recepção sobre a posse ou não do “vaucher” da reserva. Ele, que jamais havia tido contato com o termo, assustou-se e respondeu que não conhecia Vaucher nenhum e que, portanto, não poderia saber onde ele estava. O recepcionista, educado, insistiu em ver o documento de reserva, mas não conseguia se fazer entender por nosso companheiro, que olhou, surpreso, para a mulher e perguntou se ela conhecia alguém com esse nome. O porteiro, percebendo a dificuldade do novo hóspede, ligou para a recepção e resolveu a questão.

Esta é uma situação que muitas vezes se repete na vida de um ex-jogador. A maioria, mesmo com quase 40 anos, torna-se refém da própria ignorância ao não ser estimulado a aprender as coisas mais simples a que pode ter acesso, contribuindo assim para aumentar as suas dificuldades em se recolocar profissionalmente após o encerramento da carreira esportiva. Mais uma vez repito: é um desperdício não educarmos essas figuras públicas que fazem parte do imaginário popular e que muito poderiam colaborar para melhorar o País e as condições de vida de seus concidadãos.

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