Por ROBERTO VIEIRA

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… Caminito que el tiempo ha borrado

que juntos un día nos viste pasar

he venido por última vez

he venido a contarte mi mal…

 

Uma chuva surge de repente no velho Maracanã lotado. Silencioso.

Apenas um punhado de torcedores grita, enlouquecido.

Nas tribunas o presidente da FIFA, Michel Platini, cumprimenta um a um os campeões.

Depois entrega ao capitão a taça que acaba de completar 40 anos de história.

Messi ergue a taça sobre a cabeça. E chora.

A Argentina é tricampeã mundial de futebol. O estádio assiste a festa portenha sob a chuva.

Não adiantou o primeiro gol de Kaká. Nem mesmo o segundo gol de Alexandre Pato.

De pé em pé a bola gira pelo gramado. Olhando para o homem gritando na beira do gramado.

Insano.

Acreditando sempre. Mãos juntas sobre o peito em prece.

Ouvindo os palavrões dirigidos das arquibancadas do maior do mundo.

 

…Caminito que entonces estabas

bordeado de trébol y juncos en flor

una sombra ya pronto serás

una sombra lo mismo que yo…

 

Na noite anterior, ele não dormira. Olhos postos no passado.

Já não havia família, amigos, mujer.

Apenas uma sombra restava do velho craque de vinte e tantos anos atrás.

O coração por vezes disparava na direção da última grande área.

Rumo às mãos de Deus?

Provavelmente, não. Sua vida não era exemplo para ninguém, a não ser por aquela paixão azul e branca.

Paixão que agora quedava derrotada ante os brasileños.

 

…Desde que se fue

triste vivo yo

caminito amigo

yo también me voy.

 

Desde que se fue

nunca más volvió

seguiré sus pasos

caminito, adiós…

 

Então Di Maria diminuiu.

Agüero empatou.

E o empate se encaminhava para os pênaltis.

Mas um cruzamento de Messi encontrou o zagueiro Monzon livre na pequena área.

Gol. Gol. Gol. O homem ergue suas mãos para um improvável céu e se ajoelha.

Fim de jogo.

Os jogadores correm para o banco de reservas.

O homem com tatuagem no braço é erguido nos ares. Inerte. Sorrindo.

Carregado em triunfo.

Como naquela velha tarde de domingo na Cidade do México.

O Maracanã conhece o seu Maradonazo.

 

… caminito que todas las tardes

feliz recoria cantando mi amor

no le digas si vuelbe a pasar

que mi llanto tu suelo rego

 

Caminito abierto de cardos

la mano del tiempo tu huella borró

y a tu lado quisiera caer

y que el tiempo nos mate a los dos…

 

Os jogadores rumam para a festa na noite carioca.

Noite deserta. Noite de Obdulio Varela.

Diego Armando Maradona se recolhe sozinho ao seu quarto.

E fecha os olhos. Feliz.

Para sempre…

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