Por MAURICIO SAVARESE

De Pequim

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Jornalistas que participam da cobertura das Olimpíadas de Pequim avaliam que a China não impôs pesadas restrições para o seu trabalho até agora, mas se dizem preocupados com a possibilidade de isso acontecer e consideram difícil o acesso a informações fora do centro de imprensa durante o maior evento do esporte mundial.

 

O coordenador da cobertura da Folha de S.Paulo nas 29ªs Olimpíadas, Fabio Seixas, afirma que a primeira grande dificuldade surgiu na quarta-feira (06/08), no acompanhamento ao percurso da tocha em Pequim. As autoridades informaram apenas sobre os locais de início e fim da passagem do símbolo que causou confusão em vários países do mundo. A falta de detalhes sobre o trajeto, diz ele, atrapalhou a cobertura.

 

“É complicado de obter qualquer informação que tenha o mínimo vínculo com segurança, como o portão pelo qual a tocha iria chegar. O outro problema que tivemos também foi fora do centro de imprensa, quando fomos cercados pela polícia durante uma reportagem em uma área de hutongs (moradias de estilo chinês). A intérprete precisou intervir e fomos embora. Mas dentro do centro de imprensa as coisas têm fluído bastante bem”, diz o jornalista, que está à frente de um grupo de dez repórteres.

 

Para Seixas, o centro de imprensa pequinês responde bem aos pedidos de entrevistas com responsáveis pela infra-estrutura olímpica e tem se esforçado para atender às necessidades da mídia estrangeira, tantas vezes retratada pelo governo chinês como parcial e preconceituosa contra o país. “Não dá cinco minutos que você pede o contato de alguém, eles te ligam de volta com o número de quem vai falar”, comentou o jornalista, que chegou à capital chinesa uma semana antes da abertura dos Jogos.

 

Editor de fotografia da agência de notícias Reuters, o americano Rickey Rogers concorda com as críticas e os elogios do jornalista brasileiro, e também prevê dificuldades no acesso a informações rápidas sobre os resultados. “Existem poucos terminais para isso fora do centro de imprensa e isso nos limita bastante. Outra questão é a falta de acesso à internet fora do centro de mídia. Se estamos fora de lá, tempos de pagar e pagar caro para usar a Internet e enviar material “, afirmou ele, que integra uma equipe de quase 60 fotógrafos e editores de fotografia.

 

Apesar desses entraves, Rogers considera a estrutura de mídia montada por Pequim superior à de Atenas. “Pelo menos está começando assim. Como vai acabar, ninguém sabe. Existe uma tensão no ar, todos percebem”, diz.

 

Os freelances que tentarão se aventurar nos Jogos Olímpicos enfrentarão dificuldades muito maiores. Esse é o caso do repórter português Francisco Q, que prefere não revelar todo o sobrenome. Há cerca de dez anos rodando pela Ásia, o jornalista de 30 anos veio à China várias vezes, mas sentiu dificuldade especial no ano do evento internacional mais importante que o país recebeu em sua história milenar.

 

“Só para conseguir um visto no Japão foi um terror. Tive de assinar declaração me comprometendo a não fazer reportagem, mas estou fazendo do mesmo jeito. Não tenho credenciamento para as áreas olímpicas, é fato, mas a cidade está aí para ser vista. Não acho que vá faltar material para quem quiser escrever sobre algo à parte dos Jogos, mas o medo de ser pego vai estar sempre ali”, afirma.

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