Por Maurício Savarese

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De Pequim

A princípio a sede dos 26os Jogos Olímpicos não assusta ninguém. Às vésperas do maior evento do mundo, que os fizeram se preparar por oito anos, os chineses no moderníssimo aeroporto da cidade são só sorrisos. Nem mesmo os oficiais da imigração justificam os temores anteriores. “Será que vão encrencar com o meu visto? Será que vão me pedir para esvaziar a mala e reclamar de cada coisinha? Será que vão me seguir até a cidade por eu ser estrangeiro?”

Não, eles não fizeram nada disso.

Os choques, no entanto, vêm aos poucos.

Tapumes escondem áreas pobres no caminho para a cidade. As pessoas olham os ocidentais com surpresa. As moças andam com shorts curtíssimos, mas ainda estranham ao verem uma amiga brasileira com uma blusa decotada. Um dos carros mais vistos nas ruas é o Santana. Ninguém segura catarro, sujeira do nariz nem flatulência: os chineses expulsam do corpo tudo que for ruim sem a menor parcimômia. Tudo custa barato para os estrangeiros.

Estou em um bairro da zona oeste da cidade chamado Lugu Nanlu, onde as principais atrações são um parque de diversões imitação da DisneyWorld e o cemitério onde estão enterrados figurões da China comunista, como Deng Xiaoping, sucessor do mítico Mao Tse Tung. Aqui o clima é suburbano, com velhos praticando ginástica e dança no parque adiante do prédio onde fico e crianças correndo ao longo dos quentes dias deste verão pequinês.

Mesmo neste clima bucólico, longe do centro, resolveram organizar dois eventos olímpicos por aqui: as competições de tiro e o ciclismo.

Ainda afetado pelo fuso e pelo dia e meio de viagem, segui na manhã desta sexta-feira para aproveitar um dos últimos momentos de venda de ingresso ao distinto público. Na noite anterior, milhares acamparam diante do ginásio de basquete e do estádio Ninho de Pássaro. A solução foi rumar ao velódromo, em busca de ingressos para a emocionante e sensacional disputa do mountain bike.

Pelo menos a venda era perto de casa.

Também havia ingressos para as competições de tiro, logo ao lado, mas como bem disse meu amigo ninguém faz questão de estar próximo a um lugar para tiro na China.

Os rapazes, afinal, podem se confundir.

Três horas de fila, pés inchados de tanto andar e ainda jet lag.

Vai passar.

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