Da Revista Época

JOSÉ ANTONIO LIMA

Segundo o levantamento da consultoria Casual Auditores, o clube paulista, segundo mais popular do país, deve R$ 41 milhões em pendências judiciais herdadas da parceria com o fundo de investimentos MSI, como a contratação de Nilmar e a indenização do técnico Daniel Passarella. Um especialista em contas de clubes diz que o Corinthians deve apresentar novo déficit em 2008, mesmo com as boas bilheterias dos jogos na Série B.

O rebaixamento para a Série B do Campeonato Brasileiro não foi o único pesadelo vivido pelo Corinthians em 2007. O fim da parceria com a Media Sports Investment (MSI), fundo de investimentos que foi presidido pelo iraniano Kia Joorabchian (segundo sua assessoria ele deixou a empresa em maio de 2006), abalou as finanças do segundo clube mais popular do país, que herdou uma dívida milionária e tem poucas formas de gerar receita suficiente para saldá-la. De acordo com o levantamento realizado pela consultoria Casual Auditores nas contas dos 21 clubes de maior receita do Brasil, o Corinthians apresenta, no balanço de 2007, um déficit de R$ 41 milhões de reais apenas em provisões judiciais – valor que o clube é obrigado a separar para pagar pendências na Justiça. Esses R$ 41 milhões representam 26% da despesa total do clube em 2007, que foi de R$ 157 milhões. No balanço de 2006, antes da saída da MSI, formalizada em julho de 2007, esse valor era zero.

Segundo Amir Somoggi, especialista em gestão de clubes da Casual, fazem parte dessa dívida pendências como a contratação do atacante Nilmar, hoje no Internacional, e a indenização do técnico argentino Daniel Passarella, treinador do clube em 2005. “Foi esse tipo de custo que fez a despesa com o futebol crescer de forma assustadora, de R$ 76,2 milhões em 2006 para R$ 114,6 milhões em 2007 (alta de 50%)”, diz Somoggi. No ano passado, o Corinthians também acertou a rescisão do técnico Emerson Leão, que ficou apenas sete meses no clube e levou R$ 1,5 milhão de indenização trabalhista. O peso do rombo deixado pela MSI chegou a superar a folha salarial da equipe no ano passado, que foi de R$ 40 milhões. Em 2005, no auge da parceria, a folha salarial do Corinthians no ano todo foi de R$ 31,4 milhões.

Clube depende totalmente da venda de jogadores

A pesquisa no balanço do clube mostrou que, entre 2006 e 2007, o Corinthians teve um acréscimo de 41,9% em suas receitas, que passaram de R$ 94,9 milhões para R$ 134,6 milhões. O problema é que esse superávit foi totalmente fruto da venda de jogadores, especialmente a negociação do meia Willian, contratado pelo Shakthar Donetsk, da Ucrânia, por US$ 19 milhões.

Sem a venda de atletas, o Corinthians teve queda de 15% em suas receitas, passando de R$ 74 milhões em 2006 para R$ 63,2 milhões em 2007. “Isso prova que há um problema muito sério no clube pela falta de geração de receitas com outras coisas que não sejam os atletas”, diz Somoggi.

A previsão do consultor é de que o clube tenha novo déficit em 2008 caso não venda atletas – hoje o jogador mais valorizado do clube é o meia Lulinha, com uma multa rescisória de R$ 80 milhões prevista em contrato. O contrato da TV Globo com o Clube dos 13, entidade que reúne as principais equipes do país, prevê uma redução em 50% da cota do clube que for rebaixado para a segunda divisão, como confirmado pela TV Globo.

Este ano, a diretoria do Corinthians lançou algumas campanhas de marketing para explorar o momento de “comoção” com o rebaixamento, como a camisa com a inscrição “Eu nunca vou te abandonar”. A torcida entrou no clima, e a média de público dos seis primeiros jogos em casa na Série B foi de 24,6 mil pessoas, ante 15,7 mil em 2006 e 19,9 mil em 2007, quando a equipe estava na elite do futebol brasileiro. Com uma renda líquida média de R$ 255 mil até aqui na Série B, os 19 jogos em casa podem render ao Corinthians uma receita adicional em torno de R$ 4,8 milhões com bilheteria este ano. Essas boas notícias, porém, parecem insuficientes para que o Corinthians consiga sanar seus problemas financeiros rapidamente.

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