MUSTAFÁ KEMAL ARTHUR

Por ROBERTO VIEIRA

Zico completou 55 anos. E foi jogar em Sevilha.

A velha Sevilha dos mouros.

Pois Zico chegou em Sevilha como um mouro.

Quando o jogo terminou em 3×2 para o Sevilha, Zico sorriu.

Ah, esse destino que tranforma giraldas em catedrais cristãs!

Jogo de futebol e pênaltis mais uma vez.

Como aquele pênalti na Taça Guanabara contra o Vasco.

Como aquele pênalti nas mãos de Bats na Copa de 86.

Mas, quem quer comer o pão que é do rei deve corta-lo com a espada, dizem nas esquinas de Istambul.

E lá se foi o galinho sofrer com outra disputa de pênaltis vinte e um anos depois.

Imaginando os torcedores que lembram dos pênaltis e esquecem dos gols, dos dribles.

Porque é do homem lembrar os dias de chuva e esquecer os dias de sol.

Porém, maktub!

As mãos do arqueiro turco defenderam o chute espanhol.

Hoje é feriado na Turquia. Istambul está em festa.

Zico recorda entre os abraços um antigo provérbio árabe:

‘Quem não provou o amargo não sabe apreciar o doce!’

E silenciosamente, Zico, ou melhor Mustafá Kemal Arthur, olha para a bola e murmura:

Shukran, futebol!

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